Maria Minhoca de Volta no Villa-Lobos

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Flora Sussekind – Rio de Janeiro – 15.03.1985

O Retorno de Maria Minhoca

Depois de quatro meses de casa lotadas no Villa-Lobos e de uma interrupção durante o período de férias escolares, Maria Minhoca, um dos textos mais farsescos de Maria Clara Machado e que, pelos contornos caricaturais nele atribuídos à figura do Capitão Quartel, chegou a ter problemas com a Censura numa das muitas remontagens realizadas fora do Tablado nos anos 70, reinicia sua temporada agora no Teatro do América, na Tijuca.

Espetáculo bem montado por Bernardo Jablonski, Maria Minhoca parece narrar simultaneamente duas histórias. A da disputa matrimonial da protagonista por duas figuras absolutamente assimétricas: Chiquinho Colibri, frágil e pouco agradável aos olhos do talvez sogro João Bulldog, e o poderoso e benquisto Capitão Quartel. E, enquanto se assiste a essa disputa simultânea pela aprovação do sogro e pelo amor de Minhoca, a peça vai tecendo, meio de brincadeira, uma espécie de breve “teoria da interpretação” de Maria Clara Machado. Segunda história na qual também estariam em confronto a capacidade de transformação e de criação de novos personagens, característica a Colibri e a seu amigo Fon-Fon, “atores” por excelência, e a impossibilidade de sair de si, de seu próprio personagem, marca registrada do Capitão Quartel.

E, entre o ator de um personagem só e o outro, capaz de se desdobrar em múltiplas imagens fictícias, tanto Maria Minhoca quanto a peça de Clara indicam suas preferências pelo segundo. História com duas faces, que Bernardo Jablonski, ele próprio intérprete de Fon-Fon numa das montagens tabladianas do texto, percebeu muito bem, moldando, ajudado pelos cenários de Fernando Berditchevsky, a casa de Maria Minhoca como uma espécie de camarote, do qual assiste, espectadora tal qual a plateia, à atuação de seus dois pretendentes. Um dos bons espetáculos de 84, Maria Minhoca, primeira direção profissional de Bernardo Jablonski, deixa claro que há muito tempo o professor e ator do Tablado já estava pronto para a nova função de encenador. Trabalho seguro e respeitoso para com o texto de Clara, que recebeu duas indicações para o Prêmio Mambembe.