Loffler, Vizcaino (atrás), Isabel e Bomtempo ensaiam Minhoca

Crítica publicada no O Globo
Por Rita Kauffman – Rio de Janeiro – 11.08.1984

As Peripécias de Maria Minhoca

A estreia de hoje para crianças é Maria Minhoca, de Maria Clara Machado, às 16 horas, no Teatro Villa-Lobos. Segundo o diretor Bernardo Jablonsky, “este é o ano de Clara”, porque serão apresentadas seis peças da escritora. No momento, de sua autoria, estão em cartaz O Dragão Verde, dirigido pela autora, no Tablado; O Camaleão e as Batatas Mágicas, no Delfin, e Maroquinhas Fru-Fru, no Teatro Ipanema.

A obra de Clara tem três vertentes, explica Jablonsky, são as de tipo capa e espada, como o Ciclo Camaleão; as líricas, mais elaboradas, em que o texto sobressai nitidamente, como O Cavalinho Azul, A Menina e O Vento, Pluft e as comédias de costumes, como Quem Matou o Leão e Aprendiz de Feiticeiro. Nestas, são feitas críticas acerbas ao falso moralismo, ao autoritarismo, aos detentores do poder, que, satirizados, são sempre derrotados por um casal simples, ingênuo, cuja força reside na bondade, na pureza d’alma. Maria Minhoca pertence a este último grupo.

A história da peça, que é uma comédia musical, as músicas são de Oswaldo Montenegro, conta as dificuldades que Maria Minhoca, Bel Garcia, e Chiquinho Colibri, Carlos Loffler, têm para casar, porque o pai dela, Clemente Vizcaino, a quer para mulher do Capitão Quartel, Roney Vilela. Fomfom, Roberto Bomtempo, amigo de Colibri, o ajuda a superar os obstáculos para ficar com Minhoca.

Os cenários, ambientados numa praça de subúrbio, em época indefinida, bem como os figurinos, são assinados por Fernando Berditchevsky, que dirigiu o Grupo Além da Lua em Jardins da Infância, trabalho que abiscoitou a maioria das premiações do teatro infantil no ano passado, inclusive o Molière. As coreografias do espetáculo são de Paoletti, ex-Dzi Croquete, que faz parte do elenco de Sapatinho de Cristal, depois de temporadas no Teatro da Lagoa e do Canecão, estreia semana que vem no Circo Cósmico. Diz Paoletti:

– Depois de Sapatinho, minha estreia em teatro infantil, fiquei muito entusiasmado com mais esse tipo de trabalho, em geral por onde todo mundo começa. A coreografia de Maria Minhoca é muito simples, intuitiva, é uma movimentação que qualquer criança pode produzir em casa. Acho que vai ser um sucesso porque estamos em plena onda da dança e toda criança percebe que é capaz de dançar.

Carlos Loffler, o Chiquinho Colibri, prêmio Mambembe 83 de ator de teatro infantil, e que integra também o elenco de A Barca do Inferno, no horário alternativo do Villa-Lobos, considera o lado romântico de seu personagem um novo desafio.
E conta:

– Sou um comediante, e esta peça dá pra explorar bastante meu lado trapalhão, careteiro, que herdei de meu avô, o ator Oscarito. Sempre tive dificuldade com os personagens românticos. Como, muitas vezes, sou extremamente crítico, foi uma oportunidade que tive para ser corrigido por um diretor diferente, trabalhando com um pessoal diferente do grupo Além da Lua.

Bernardo Jablonski, que estreia na direção com Maria Minhoca, dá aulas de Psicologia Social na PUC, faz doutorado na Fundação Getúlio Vargas, dá aulas de interpretação para iniciantes no Tablado, onde está desde 70, e edita os Cadernos de Teatro em colaboração com Ricardo Kossovsky. Ele próprio atuou numa montagem antiga de Minhoca e seu último trabalho como ator foi em O inimigo do Povo, de Ibsen. Apesar dos percalços, perdeu 2 atores: Alexandre Frota, o Hércules de Os Doze Trabalhos, foi contratado pela TV Globo para a próxima novela das seis e Tiago Santiago quebrou a perna; Oswaldo Montenegro teve que abandonar a direção musical, em seu lugar está Toninho Lopes, que dirige O Camaleão e as Batatas Mágicas, no Delfin, e só conseguiram teatro com a ajuda de Lúcia Coelho, no Navegando, Jablonsky afirma estar entusiasmado com o trabalho e muito satisfeito em integrar um time tão premiado de profissionais. Sobre Bel Garcia, a Maria Minhoca, aluna do Tablado, que está começando sua carreira profissional, diz o diretor:

– Estamos apostando no talento de Bel. De todos nós, ela é quem tem mais espírito profissional. Chega sempre na hora para os ensaios, não faz reivindicações, nem reclamações.

Ficha Técnica

Autor: Maria Clara Machado
Direção: Fernando Jablonski
Cenário e Figurinos: Fernando Berditchevsky
Adereços: Beatriz Vidal
Coreografia: Paoletti
Músicas: Oswaldo Montenegro
Direção Musical: Toninho Lopes
Iluminação: Bernardo Jablonsky e Fernando Berditchevsky
Elenco: Bel Garcia, Carlos Loffler, Clemente Vizcaino, Roberto Bomtempo e Roney Vilela