Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 17.07.2015

Há três histórias no livro e três histórias no palco

O espetáculo que está em cartaz nestas férias em São Paulo, toda terça-feira

Temas são muito importantes e pertinentes ao mundo de crianças

Barra

Ruth Rocha no teatro, sem tirar nem pôr!

Ótimo grupo de Jundiaí encena três famosas histórias da escritora na íntegra, sem cortar palavras nem adaptar os textos

Graças ao Festival de Férias do Teatro Folha, que lota esse espaço do Shopping Higienópolis, em São Paulo, em todos os meses de janeiro e de julho, pude conhecer o trabalho do grupo de Jundiaí chamado Cia. Paulista de Artes, capitaneado por Marcelo Peroni. Fundada em 1991 e com uma constante programação de Projeto Escola desde 1998, a companhia especializou-se em receber alunos e professores para espetáculos, bate-papos e debates. Já ganhou muitos prêmios e representou o Brasil na Mostra Internacional de Teatro de Oeiras, Portugal.

O espetáculo que está em cartaz nestas férias em São Paulo, toda terça-feira, é Marcelo, Marmelo, Martelo e Outras Histórias, baseado no livro conhecidíssimo da veterana Ruth Rocha. Neste caso, dizer que é ‘baseado’ no livro não dá a exata dimensão do trabalho do grupo. Na verdade, o texto na íntegra do livro está em cena, numa curiosa forma de se fazer teatro chamada de “teatro narrativo”. Se você assistir ao espetáculo com o livro às mãos, vai ver que está tudo lá, palavra por palavra, do jeitinho que Ruth Rocha escreveu, sem adaptações ou cortes. E que mulher danada: como ela sabe, como poucos, retratar o universo infantil com seus questionamentos, suas inseguranças, sua vivacidade!

Há três histórias no livro e, portanto, três histórias no palco. É lindo ouvir na plateia, de crianças que já conhecem a obra da escritora, frases como: “Agora acabou a história do Marcelo, e vai começar a de Terezinha e Gabriela, e depois será a vez do Caloca.” É como se a garotada estivesse lendo um livro ao vivo, e assistindo à materialização da escrita. A direção de Peroni é ágil, esperta, dinâmica. Ele não deixa o numeroso elenco cair na linguagem infantilóide e facilitadora, que apenas reproduzia estereótipos. Os personagens são mostrados de forma crível, capazes de atrair a identificação e empatia do público mirim.

E os temas são muito importantes, pertinentes ao mundo de crianças urbanas, que vivem de casa para a escola, da escola para casa. Marcelo é perguntador, inquieto, inconformado com a falta de explicação para os nomes das coisas. Terezinha e Gabriela são duas meninas de temperamentos opostos, que, de repente, se veem uma copiando a outra, até que se espantam ao ver que uma quase se transformou na outra. Como isso é comum entre garotas. Ruth Rocha é sábia. E, na terceira história, o menino Caloca sofre por não saber dividir seus brinquedos com os amigos – outra questão infantil bem comum.

Vale a pena levar seus filhos. A direção cênica contou uma azeitada parceria com a direção musical do espetáculo, a cargo de Estevão Marques, que se define como um “músico inventor de mirabolâncias”. Com carreira sólida e até internacional, Estevão ajudou a dar mais alma ainda ao espetáculo, preenchendo a narrativa de sons e canções de letras brincalhonas e contagiantes. A cenografia de Juliana Fernandes, apoiada no deslocamento de módulos, também merece menção, pela funcionalidade criativa. Vamos ao teatro?

Serviço

Marcelo, Marmelo, Martelo e Outras Histórias

Só às terças (21 e 28/7), às 16h

Teatro Folha. Shopping Pátio Higienópolis
Av. Higienópolis, 618 / Terraço
Tel.: (11) 3823-2323
Ingresso: R$ 30,00 (inteira)