Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 22.11.1980

Barra

O sapo-homem

Os produtores de A Maravilhosa Estória do Sapo Tarô-Bequê, de Márcio de Souza, merecem, em princípio, os aplausos pela iniciativa de abrir: Teatro Rival, no centro da cidade (Cinelândia). “Fazer um Ponto”, é uma tarefa trabalhosa, é um investimento, e o Sapo Tarô-Bequê dispõe-se ao sacrifício de ser mostrado num local que não tem tradição de teatro infantil e que muitos pais nem sabem onde é.

O público que tem ido ao Teatro Rival entra em contato com um escritor inteligente e que procura, dentro de uma trama que cria interesse para a criançada e que lhe permite um bom nível de entendimento, realizar uma crítica bem humorada sobre o processo de desculturação brasileira (principalmente na Amazônia), causado pelas colonizações estrangeiras. Márcio mistura com equilíbrio  sapo, urubu-rei, gênio da floresta e a ameaça de os turistas estrangeiros fazerem bagunças na maloca.  Entretanto, além de suas qualidades evidentes, o texto perde força em função da própria estrutura dramatúrgica, com o autor utilizando-se de um anacrônico narrador – que só emperra o desenvolvimento da ação dramática. Marcio de Souza recorre também demasiadamente ao monólogo (o inicial é desnecessários e se comunica pouco com as crianças / o da mulher, ao nascer é cansativo e monótono / o final, é redundante e tolo). São momentos onde a trama para e a comunicação sofre um corte.

A direção de Adalberto Nunes carece de maior definição de linguagem. O espetáculo começa muito bem, envolvente com o diretor explorando os elementos sonoros e visuais que tem em mãos: os cenários e figurinos de Zemário Limongi, os sons, a luz. Mas a encenação vai perdendo força gradativamente e certas são esticadas além de seu tempo correto, causando cansaço e a impressão de que a peça é demasiadamente longa. No elenco, muito irregular e inseguro, destaque para Martha Pietro, a engraçada cúmplice do Urubu-rei; e para Tânia Moraes, a Cobra, com um bom jogo de expressões faciais.

Vi o espetáculo na estreia e era visível sua falta de ritmo. Certamente, neste final de semana, o espetáculo deve estar mais lubrificado, permitindo maior expressividade à história do sapo que quer ser homem e permitindo, ainda, maior comunicação entre as belas imagens criadas.