Um elenco jovem, solto e alegre

Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 23.08.1980

 

Barra

Uma saudável diversão

O interesse é a diversão do público. E isso, O Grupo Manhas e Manias consegue amplamente, com base, inclusive, num tipo de comicidade mais trabalhada, com certa dose de crítica, de sofisticação e com um apurado nível técnico, onde se destaca o uso do corpo como um dos elementos mais marcantes. A peça em cartaz no Parque Lage, que também tem o título de Manhas e Manias, é encenada por um grupo de atores bastantes jovens (mais um time de atores que o Tablado lança no mercado) e, através de um clima solto, de um estilo de representação, de roupas alegres e coloridas, leva o público a se divertir com sua proposta (e criativa realização) de fazer um espetáculo de “mágicas, hipnose, levitação, sketches de circo, bang-bang, cowboys, índios, acrobacias, palhaçadas e a sensacional participação da Cavalaria do Exército Americano”. O espetáculo se utiliza de várias linguagens, indo do pastelão ao musical americano, do circo ao bang-bang, de uma simples brincadeira ao show de variedades, mas o que me parece o grande acerto da encenação, tudo isso se liga harmonicamente e a montagem flui com bastante naturalidade, com boa lubrificação entre uma parte e outra.

No dia em que assisti, a impressão que tive, observando a plateia infantil, foi a de que o número mais apreciado foi o das mágicas – sempre um fascínio não apenas para as crianças mas também para os adultos. Entretanto todos os demais momentos agradaram bastante e isso se deve tanto às cenas selecionadas como, também ao trabalho do elenco, todos muito seguros, engraçados, com uma energia e simpatia contagiantes.

Originalmente, esse espetáculo recebeu o nome de Diante do Infinito e era dedicado apenas à plateia adulta, com apresentações no Teatro Cacilda Becker. Agora, Diante do Infinito está sendo apresentado neste final de semana á noite, no Parque Lage. E Manhas e Manias é o espetáculo, só que com os cortes julgados necessários para uma plateia infantil. E aí reside a primeira falha de Manhas e Manias; a sua duração. Parece que precisaram cortar tanta coisa que Manhas e Manias, na realidade, se transformou num miniespectáculo, tão curto que é. Como o público não paga um mini ingresso, tem todo o direito de reclamar. Além do mais porque, apesar de o espetáculo se sentir muito bem ao ar livre, adaptando-se perfeitamente ao visual do Parque Lage, há um sério problema de visibilidade, principalmente para as crianças. E, por último, uma observação: o teatro, “sempre em crise”, deve procurar conquistar o público e não assusta-lo. Por mais que seja engraçada e inesperada a cena final, por favor não molhem os espectadores. Os pais tem, como Manhas e Manias, uma boa alternativa para sua programação. E aproveitem porque o grupo só tem espaço à sua disposição neste final de semana, saindo de cartaz a manhã. O meu desejo é que seja achado um outro teatro para que o espetáculo prossiga em cartaz, mas criando outras cenas que permitiam um bom tempo de duração.