Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 13.03.1999

 

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Apaixonante simplicidade

Mamãe Ganso, uma das personagens mais queridas da literatura, tem origem incerta. Alguns acham que foi inspirada na mãe do imperador Carlos Magno, que sempre contava histórias para os netos. De qualquer maneira, essa vovozinha esperta foi imortalizada por Charles Perrault, nas maravilhosas Histórias de Mamãe Ganso, como A Bela Adormecida e outras.

Eduard Roessler, comemorando os 20 anos de seu grupo teatral, o Papel Crepom, investe na personagem para criar o seu melhor texto, Mamãe Ganso, em cartaz no Teatro Abel, é um espetáculo que usa as brincadeiras infantis e os jogos dramáticos para contar uma história emocionante em todos os sentidos. Aqui o apelo visual se une ao bom enredo e todos saem ganhando.

Numa cidadezinha do interior, com pracinhas e piqueniques, um grupo de crianças se entrega a brincadeiras nas quais a guerra entre meninos e meninas parece suplantar o prazer do jogo. Nesse clima, sem muita pirotecnia de vôos sobre a platéia, Mamãe Ganso chega à cidade. E chega sem lições moralistas ou fórmulas mágicas para encontrar o final feliz. Chega contando história, que se transforma em brincadeira, que se transforma em teatro. No enredo, nenhum amuleto mágico com poder de transformação. É história de mocinho no Velho Oeste da pracinha. História contada ao mesmo tempo em que representada, tão comum nas brincadeiras das crianças. Tramas sem os bons contra os maus, e nem por isso sem conflitos. Um perfeito equilíbrio.

Roessler, também diretor do espetáculo, cria uma peça de múltiplas narrativas e cenas bem encadeadas. Na difícil tarefa de dirigir um elenco de crianças, se sai muito bem quando utiliza os jogos dramáticos, deixando seus jovens atores muito à vontade.

No elenco, Célia Paixão é a protagonista sem nenhum tom piegas. A atriz dá à personagem alguns toques de forjada sisudez que muito lembram outra querida personagem: Mary Poppins. Gisela Roessler tem bonita presença como Alice, a mais velha das meninas, e Leandro Hassun é um engraçado vovô. No cast infantil, o destaque fica com Nicole Caputo, a Teresa, sempre dona das brincadeiras, e com Nino Meirelles, o Kid Panqueca.

Além do excelente texto, que envolve o público desde o primeiro minuto, Mamãe Ganso tem figurinos muito delicados, assinados por Eduard Roessler e Cida Hardman. Fechando as parcerias, as musicas de Roessler, com arranjos de Zelly Mansur, são um misto de country e caipira muito adequado ao enredo.

Mamãe Ganso é um espetáculo onde estão em cena a história e a ação. É simples. E como já dizia a o poeta Galizia: há os que se apaixonam pela simplicidade.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)