O elenco de Malasartes: atores incorporam repentistas para apresentar o personagem, em espetáculo de cores vivas e músicas alegres

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 14.03.2004

 

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Malasartes: Personagem caipira dá o mote em espetáculo cenicamente bonito e bem cuidado

Diversão em histórias entranhadas na cultura popular brasileira

Se as crianças ainda não ouviram falar de Pedro Malasartes, o espetáculo Malasartes!, em cartaz no Teatro SESI, dá a elas uma boa oportunidade de conhecê-lo. Na peça de Augusto Pessôa, dirigida por Rubens Lima Jr., o esperto personagem caipira é apresentado em cinco histórias que divertem o público infantil.

A cultura popular brasileira e seus personagens com sotaque carregado, trajes coloridos e músicas alegres – foi definitivamente incorporada ao trabalho da dupla Pessôa & Lima Jr., que não se cansa de pesquisar nosso universo para apresentar novos temas aos pequenos. Em Malasartes!, o autor cria cinco histórias que exibem as artimanhas do protagonista para enganar os que se consideram espertos, saindo-se bem de todas situações complicadas em que se vê envolvido.

Na primeira delas, os atores incorporam repentistas para apresentar Malasartes, um homem para lá de esperto, que vive cada hora num lugar, sempre dando um jeito de driblar as situações mais desfavoráveis para ele. Na segunda, a mãe do protagonista, à beira da morte, pede-lhe que arranje um trabalho decente. A história, a melhor do espetáculo, é recheada pelas passagens de Malasartes pelo palco, carregando cartazes com palavras que representam os pedidos de seu patrão. O recurso acaba transformando-se numa grande brincadeira para as crianças que ficam aguardando as novas entradas do personagem, repetindo as palavras escritas e dando boas gargalhadas com elas. A terceira, do passarinho, e a quarta, da sopa de pedra, também são bem divertidas, estabelecendo empatia com o público infantil. Já a quinta, Malasartes no céu, apresenta pequenos problemas, causando uma certa dispersão na plateia.

O espírito do espetáculo é o dos artistas mambembes, andarilhos que apresentam seus trabalhos em diferentes lugares, sem pouso certo ou moradia. E Rubens Lima Jr. recria a técnica desses artistas com propriedade. É sempre muito bonito ver o palco vazio ganhar vida, ao ser preenchido pelos elementos cênicos e adereços que os atores tiram de suas malas e sem os quais o espetáculo muito perderia.Também enriquece o espaço cênico a preciosa iluminação de Ricardo Marques e Renato Marques, um dos pontos altos do espetáculo.

Uso de bonecos quebra ritmo do espetáculo

Na realidade, toda a parte técnica do espetáculo está muito bem resolvida, passando pela preparação corporal de Nelly Laport, os cenários, figurinos e adereços de Augusto Pessôa, e a direção musical, sempre primorosa, de Rodrigo Lima. A presença dos músicos em cena traz muita vivacidade ao espetáculo, sendo um diferencial a favor do grupo.

O elenco também é de primeira. Gustavo Maranhão, Rene Pinheiro, Rodrigo Lima e Simone Beghinni acertam em cheio na composição de seus diferentes personagens, inclusive no de Malasartes, papel que eles revezam durante a peça. E isso faz pensar: seria mesmo necessária a presença de bonecos num espetáculo com um elenco tão homogêneo? É claro que bons atores e bonecos podem conviver bem em cena. Mas parece que em Malasartes! o tempo dá manipulação dos bonecos não correspon­de ao tempo da interpretação dos atores, o que provoca uma quebra no ritmo do espetáculo.

De qualquer forma, Malasartes! é uma peça muito bem feita, encenada por um grupo que está cada vez mais comprometido em apresentar ao público infantil espetáculos de qualidade.