Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 16.05.1976

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Máquina do Tempo: só a produção merece elogios

O que chama mais a atenção, em A Mágica Máquina do Tempo, é o indiscutível cuidado com a produção demonstrado pelo grupo Teatro da Juventude. Existe um acabamento profissional em todos os sentidos, tanto no que se refere a cenários quanto a figurinos, slides, som. E essa produção bem cuidada chega a surpreender ainda mais quando se sabe que A Mágica Maquina do Tempo é um espetáculo montado com o objetivo de viajar pelo País. Basta o fato de pretender viajar com peças em que se destacam os cuidados necessários para uma montagem (ao contrário dos arremedos que costumam fazer o Brasil) para se dar, ao grupo, um bom crédito de confiança.

Luiz Arthur e Carlos Abel são os líderes do Teatro da Juventude e assinam o texto, a produção, a direção, os cenários e os figurinos. E aí, nesse multiplicar de atividades, talvez esteja uma falha do grupo. Nota-se claramente que a dupla tem bom gosto, marcando o espetáculo pela predominância dos aspectos visuais. Mas fica evidente, também que o texto carrega muitos equívocos e é repleto de incoerências; e que falta alguém com qualificação necessária para dirigir os atores.

O texto tem como ideia básica, a intenção de mostrar que, na luta entre a força e a inteligência, o homem é que tem levado a pior. Para provar sua tese, os autores selecionaram trechos da história que julgaram mais marcantes e, através de uma máquina do tempo, fizeram com que um personagem da nossa época viajasse por todos eles, participando sempre de uma situação de conflito. Entretanto, os autores caíram na armadilha do esquematismo e da redundância. A peça começa muito estimulante, mas o interesse do público vai decaindo a medida que se tornam adivinháveis (porque repetitivas) as sequências posteriores. Além disso, há alguns senões no texto que podem ser cortados para não comprometer um resultado cujo saldo é positivo. Frases como “Subornem eles e Não precisaremos matá-lo”; “Não podia imaginar que na Idade Média isso também estivesse acontecendo”; ou ainda, “Chamem mais soldados porque essa mulher é terrível” –são carregadas de incoerências. Qualquer um dos soldados presentes dominaria facilmente aquela velhinha armada apenas de um guarda-chuva; Asdrúbal é um eterno curioso e, além do mais, filho de cientista; é claro que ele está informado sobre a Idade Média; e, na primeira frase, os carrascos são de um amadorismo inverossímil, pois, além de libertarem o prisioneiro, ainda lhe dão dinheiro…

O elenco, formado por Carlos Patrianova, Márcia Merquior, Vicente Barcellos, Otávio Luiz e Nelson Nuccini, tem um trabalho de fôlego, com cada ator fazendo vários papéis. É visível a falta de um bom trabalho de direção de atores; em certas cenas estão firmes e criativos; em outras, inseguros, bisonhos. Apenas Carlos Patrianova mostra-se perdido do início ao fim.

Espetáculo para crianças maiores, A Mágica Máquina do Tempo, tem a seu credito o cuidado com a produção. A direção do espetáculo ainda se alimenta de esbarrões, quedas e falsas brigas; e mostra também, um comportamento grosso do marido, numa visão mais que clichê (e falsa) do que é um cientista. A montagem tem um horário especial aos domingos, no João Caetano: 10h30m.