Falta a A.M.I.G.A.S. a crítica do bom teatro para jovens.

Crítica publicada pelo Jornal do Brasil
Por Macksen Luiz – Rio de Janeiro – 27.08.1999

Abobrinhas sem consistência

Uma verdadeira vertente mercadológica nasceu com o sucesso de Confissões de Adolescente. O texto de Maria Mariana, com tanta sinceridade e lastro no diário de uma jovem, transformou-se em sensível depoimento teatral sobre a juventude. Mas no rastro dessa bem-sucedida experiência vieram inúmeros subprodutos que tentam pegar a carona num êxito sem considerar as qualidades intrínsecas da obra que gerou tal repercussão. O teatro para adolescentes é uma dramaturgia confessional que se manifesta em níveis diferentes de reflexão se espalharam pelo mercado muito mais como tentativas de reproduzir sucessos do que propriamente como exploração de gêneros.

A.M.I.G.A.S. (Associação das Mulheres Interessadas em Gargalhadas, Amor e Sexo) – esse título já demonstra bem as intenções, e a medida que se quer dar a montagem – é mais um exemplar dessas produções em que uma certa faixa de publico se torna, ao mesmo tempo, personagem e consumidor de uma narrativa que, supostamente, reproduz vivencias juvenis. O texto de Duda Ribeiro alinhava situações que se aproximam de uma juventude dourada para qual as questões mais relevantes são aquelas que se relacionam com seus próprios umbigos. Se a peça procurasse fazer uma análise, mesmo que suave, ou uma crítica, ainda que atenuada, do mundo dessas mocinhas, talvez conseguisse emprestar maior consistência à trama praticamente inexistente. São cenas soltas, com tênue narrativa que interliga cada uma delas, e que não se sustentam sequer como quadros autônomos.

O que as quatro personagens femininas dizem e pensam é pouco mais do que abobrinhas, ainda que as atrizes que as interpretam sugiram que suas idades são bem superiores a tais preocupações adolescentes de jovens namoradoras. O único objetivo parece se concentrar na maneira de como conseguir um namorado, como manter a relação ou nas técnicas em aplicar-se nessas investidas. Como não há qualquer sentido crítico diante dessas platitudes juvenis e muito menos efeito refletor sobre esse tipo de obsessão, resta a A.M.I.G.A.S. a função de atender a uma repetição de fórmula que aparentemente pode ser entendido como depoimento de geração, é na verdade exposição involuntária de um vazio etário. A diretora Cristina Pereira procura superar a fragilidade do texto com tratamento humorístico. O esforço consegue resultado discreto, já que a comicidade não é suficiente para ativar as zonas mortas da narrativa e a frequente queda de interesse na trama frágil. O cenário de Ronald Teixeira tem dificuldade de resolver o ingrato espaço no palco do Teatro Clara Nunes. Numa composição escura, com pequenos boxes em que, nem sempre as cenas se desenrolam (as marcações são majoritariamente, no centro do palco), esse projeto cenográfico se esconde no fundo da cena. A iluminação de Maneco Quinderé empresta alguma luminosidade a esta cena ensombrada, enquanto os figurinos de Lessa Lacerda vestem com espírito fashion os perfis das meninas. Com tipificação das personagens femininas – a garota engraçada do grupo, a atirada, a agressiva, a melancólica – as atrizes defendem esse esquematismo com desenhos interpretativos de traços largos. Mary Sheyla explora o humor direto, mais voltado para a plateia. Fernanda Rodrigues tenta, com relativo êxito, dar um ar menos estereotipado á sua personagem. Luana Piovani sobressai pela exultante beleza, mas deixa entrever talento como comediante. Bebel Lobo descobre algum sentido para o tipo sem muita realidade psicológica que incorpora. Ernesto Piccolo interpreta todas as figuras masculinas, encontrando o tom de humor que faz com que as suas circunstanciais intervenções sejam as mais divertidas do espetáculo.