Produzimos, consumimos, descartamos e também desperdiçamos. São algumas dessas ações cotidianas que precisamos questionar e talvez mudar para que a vida neste planeta não continue caminhando sem direção. Infelizmente, as consequências do atual sistema econômico mundial ainda não estão sendo levadas a sério o suficiente para que possamos garantir às próximas gerações, uma boa qualidade de vida. Numa sociedade baseada em uma economia de consumo, muitas vezes o valor atribuído a um indivíduo refere-se ao seu poder de compra. Alguns conseguem acompanhar este estilo de vida consumista satisfazendo suas “necessidades” (e a do mercado), enquanto outros apenas lutam pela sobrevivência.
Discussões sobre os rumos da economia mundial são temas de conferências como a de Gênova, ocorrida no último mês de julho. Se a questão do lucro fosse considerada pelo ponto de vista do desenvolvimento sustentável, priorizando a qualidade de vida de todos os seres vivos em seus meios, as consequências deste sistema econômico insustentável ainda poderiam ser controladas. Do contrário, se os países de maior poder econômico seguirem apenas o caminho do lucro acima das consequências como um todo, o futuro poderá ser bem pior para o planeta inteiro, sem exceções.
Fatores como o crescente acúmulo de resíduos sólidos, somado a outros, como a enorme quantidade de energia proveniente das fontes naturais não renováveis que é gasta no processo de industrialização, poluição dos solos, da atmosfera e das águas, compõem um quadro complicado da situação ambiental do planeta, afetado cada vez mais pela ação do homem.
A quantidade de material descartável e reciclável desperdiçado ainda está na lista dos assuntos mal resolvidos em termos de saneamento público. O que é perdido por não se reciclar, é algo vergonhoso para grandes centros urbanos no Brasil, que segundo pesquisa recente, jogam por volta 1,9 bilhões de reais por ano.
Algumas das alternativas para se entender tantos problemas já estão sendo postas em prática há muitos anos, através dos trabalhos de educação ambiental formal e informal no Brasil. As ações propostas já conhecidas, como os 3 Rs do lixo – Reduzir o Consumo, Reaproveitar e Reciclar, são temas amplos e devem ultrapassar seu significado concreto, no sentido de uma nova avaliação na direção que desejamos dar à nossa vida.
Redução do consumo trata da ação preventiva, entretanto, mostra-se a mais difícil de se realizar, pois estamos cercados de apelos que nos levam à ideia de consumo.
Reaproveitar ou Reutilizar é a ação criativa onde o lixo é visto por outros ângulos. Reutilizando materiais estamos reduzindo o consumo. É uma forma de valorizar habilidades, onde o consumidor se torna ativo tomando uma nova postura, diferente daquela do comprador passivo que não participa de nenhuma etapa do processo de produção. Reutilizar é também dar outras possibilidades ao que já estava considerado esgotado, nos levando a entender a vida de uma nova forma, pois o lixo, de alguma maneira, nos traz a lembrança da morte, que na nossa sociedade é um assunto pouco elaborado e até negado.
São reflexos da vida moderna levando os seres a um grave distanciamento da natureza.
Tantos são os descartáveis que não só os materiais são desvalorizados, mas a vida corre o risco de passar a ser desperdiçada. Onde havia simplicidade está uma complicada engenhoca de produção, exploração, consumo e descarte.
Finalmente, a reciclagem do material descartado é a alternativa em escala industrial para dar vazão à enorme quantidade de lixo gerado por consequência da falta de responsabilidade no planejamento de um sistema econômico imediatista. No Brasil, a necessidade de sair da miséria tem levado muitos cidadãos a transformar a reciclagem em alternativa de sobrevivência. Aposentados e desempregados saem às ruas como catadores de material reciclável organizando-se em cooperativas. Dos excessos praticados por uma parte da população, tiram o básico para o sustento que antes lhes era negado pelo mesmo sistema socioeconômico incoerente, que não tem oferecido as mesmas oportunidades para todos.
Mas qual é o nosso papel diante destes fatos? Em qual direção devemos concentrar nossas ações para contribuir com as mudanças necessárias?
A educação ambiental tem algumas propostas de sensibilização, para que estas questões sejam repensadas e transformadas em ações coerentes com as novas necessidades sociais, políticas, econômicas e ambientais.
As buscas que o Grupo Oficinas de Reutilização Véu de Noiva tem feito para sensibilizar mais as pessoas, levou a um grande trabalho de pesquisa de transformação de garrafas “PET” em objetos de valor estético e utilitário. Com a reutilização, temos transformado plástico descartável em material para nossas oficinas de arte. Trabalhando com a criatividade dos participantes é possível mostrar o valor desses materiais, além de questionar valores e costumes relativos ao nosso “lixo” de cada dia. Acreditamos que a formação da consciência do consumidor responsável se deve às experiências já vividas socialmente, da qualidade das informações e dos estágios pelos quais o indivíduo já passou na busca das mudanças necessárias à sua volta.
A educação ambiental em que acreditamos caminha para a reeducação, cabendo aos profissionais de diversas disciplinas promover as reflexões com coerência e ousadia, para que o resultado seja a sensibilização para a mobilização.
Amália Trivellato
Psicóloga e fundadora-integrante do Grupo Oficinas de Reutilização Véu de Noiva.
Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 5º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (2001)