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“Quero um texto que tanto permita a entrada da criança, como também acorde a infância que mora em todo adulto”
Bartolomeu Campos de Queiroz
Diante do pensamento de Bartolomeu parece que o adjetivo “infantil” é desnecessário na temática desta mesa. Como expressão de arte, seja o texto literário ou o texto dramaturgo a seleção do texto e o considerar do publico alvo é fundamental, porem não significa que este considerar gere uma redução ou minimização do texto que acabe por denunciar a concepção de criança que a considere um sujeito menos capaz. Professora, Pedagoga, Mestre em Educação pela FURB, pesquisadora na área de leitura. Coordenadora regional do Proler de Blumenau, membro da Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio e promotora do livro e da leitura.
A literatura e a peça de teatro tem como elemento fundamental o texto. Porém, não é demais destacar que enquanto a primeira estabelece uma relação direta com o publico alvo, suscitando imagens e contexto, a segunda, mesmo partindo do mesmo elemento “o texto”, apropria-se de outros recursos como luz, sonoplastia, cenário, jogo de voz, expressão corporal e interação entre os atores.
Nas duas expressões de arte literatura e teatro a seleção da narrativa a ser presenteada a criança é fundamental. É necessário que o texto apresente elementos inusitados que além de investir e ampliar o potencial criativo do sujeito receptor estabelece um diálogo que permite o desenvolvimento de um olhar sensível ao contexto no qual está inserido. A curiosidade e característica do homem e a criança não e diferente, sendo assim, há que se valorizar pontos da história que suscitem a curiosidade, pois esta contribuirá com o público no exercício de elaboração de hipóteses e suposições. Além destes dois elementos tão importantes quando da seleção do texto, como estamos pensando em um publico bastante criterioso e sincero na manifestação de agrado ou· desagrado do texto apresentado, o brincar com a sonoridade da palavra pode contribuir em muito para esta seleção. Considera-se que alem de conter o elemento lúdico que agrada a qualquer idade, favorece em muito o desenvolvimento da linguagem. Nenhum texto nasce sozinho, os textos dialogam entre si e geram novos textos. Sendo assim, quando as narrativas trazem na sua textualidade o cruzamento, citações e o mencionar de outros textos, esta narrativa estabelece uma comunicação com o repertório de textos lidos e ou recebidos pelo publico ou gera no sujeito receptor, seja ele um leito, um deslocamento na direção de conhecer novos textos.
Pode-se afirmar que estes elementos são comuns para a seleção das narrativas a serem lidas ou dramatizadas a criança. Porém, é necessário que se destaque outros elementos que na ocasião da leitura não podem ser desconsiderados. A experiência leitora da criança, muito mais que a sua faixa etária, e um fator determinante no aproximar desta com o texto e o objeto livro. O repertório que a criança dispõe de textos lidos ou ouvidos poderá ser determinante no diálogo que esta poderá estabelecer com o texto ofertado. Conhecer as preferências de autoria, temática e de textualidade do público receptor favorece a aproximação do sujeito leitor com o sujeito receptor. Todas as expressões de arte geram manifestações orais. Sendo assim, a possibilidade de prever, após a leitura, um espaço de tempo para dialogar com a criança acerca do seu olhar sobre o texto favorece a compreensão do mesmo, bem como, gera a possibilidade da criança recriar o texto e narrá-lo para os seus pares. O acesso livre ao objeto livro em muito contribui com o seu desenvolvimento humano e sensível. O ato de ler significa então uma relação intima do sujeito leitor com o objeto livro.
No descrever dos elementos fundamentais que favorecem a qualificação dos textos dramaturgos e literários não é demais destacar outros elementos que precisam ser evitados. Evitar a moral explícita do texto e a intencionalidade de ensinamento e procedimento primeiro. A arte não tem esta preocupação, não nasce com este propósito e, contrário a esta pretende dialogar de forma bem aberta com sujeito leitor e receptor do texto. O uso de diminutivos, além de desqualificar o texto, acaba por apresentar uma concepção de infância que hoje já não cabe mais no contexto que estamos inseridos. Textos que se apresentam com muito detalhamento explicando tudo ao leitor tende a se distanciar de suas características literárias e se aproximar de outro texto que apresenta outra função social, a informação. O texto literário gera reflexão livre.
Por fim, da escolha literária a dramaturgia o considerar do público como sujeito sensível só leva a concluir que trata-se de suportes de textos e de expressões de artes diferenciadas que se complementam. Quando se é feliz na escolha, tem-se parte do caminho de sucesso percorrido. Há possibilidades de bons atores qualificarem textos frágeis. Porém, quando se trata de desenvolvimento humano é fundamental que se promova o desenvolvimento da linguagem, a organização do pensamento, o imaginário e o compreender do contexto em que se vive.
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Patrícia Constâncio
Professora, Pedagoga, Mestre em Educação pela FURB, pesquisadora na área de leitura. Coordenadora regional do Proler de Blumenau, membro da Cátedra UNESCO de Leitura PUC Rio e promotora do livro e da leitura.
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Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 10º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (2006).



