Crítica publicada no Site do CEPETIN
Por Maria Helena Kühner – Rio de Janeiro – 18.05.2009

 

Barra

Um espetáculo da Cia de Teatro Artesanal é sempre gerador de boas expectativas, dado o nível de qualidade de seus trabalhos. Mas, desta vez, saíamos de lá um tanto frustrados.

A ideia central – o fato de ter rosto ser causador de uma diferença que gera estranheza e leva ao isolamento – é interessante e provocativa (sobretudo em um tempo em que a massificação é crescente, diria um espectador adulto). Como são provocadoras as cenas iniciais, com seu belo videografismo e o clima insólito criado pelas figuras em negro, sem rosto, movimentando-se pela cena, enquanto um play back introduz a história que, ao que se supõe, vai se desenrolar. Mas é neste desenrolar que a peça vai revelar sua fragilidade maior: a opção da Cia., de “não dar prioridade” ao texto, no caso parece tê-los levado a deixar de lado a escritura dramatúrgica, reduzindo-a a essa narrativa em play black que vai se revelando falha e desconexa: o pequeno príncipe é isolado do mundo pelo insólito fato de ter rosto; mas a “pequena ama” que vai surgir também tem rosto e, ao que parece, convive normalmente com os demais no mundo fora; decidem fugir juntos e em outra cidade vão encontrar antepassados também com rosto ( como, por que? ); resolvem então voltar (?) e…dá-se um arremate da trama que soa brusco e forçado: “Acabou…?” perguntou, cada vez mais atônito, um menino de 10 ou 12 anos próximo a nós. Levando quem assiste a supor tratar-se de um work in progresss que foi levado, ainda inacabado, à cena.

Pois esse fiapo narrativo esgarçado não é suficiente nem para manter o interesse na trama, nem como suporte da escrita cênica – que vai perdendo ritmo, e tornando-se lenta, monótona, repetitiva, empobrecendo-se gradativamente até o esvaziamento final – nem como suporte para o sugestivo videografismo e a bela iluminação, que perdem igualmente sua força expressiva.

Se as influências buscadas, e mencionadas, foram o gótico e/ou o cinema de Tim Burton, cabe lembrar que, em ambos, o clima insólito e fantasioso se desenvolve ou se desdobra em uma trama que mantém o interesse – e não apenas na temática em torno de facetas inéditas de personalidade. Vale lembrar Dr. Jekyll e Mr. Hyde, ou Dorian Gray, ou Frankenstein, ou, no cinema, o Edward Mãos de Tesoura, ou o Batman, e até a Alice de Tim Burton. Uma pergunta curiosa nos ficou: se antes o trabalho da Cia Artesanal trabalhava o texto como prioridade, porque, em vez de acrescentar ao que fazia, decidiu substituí-lo por outra busca que, ao que parece, menospreza o antes conquistado? Mas vale o esforço de, em um momento e meio de grande número de espetáculos que nada buscam e nada acrescentam, a Cia de Teatro Artesanal estar mantendo uma linha coerente de experimentação e inovação.