Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 27.08.2000

Barra

Parceria Celebrada com Muito Humor

Como comemorar uma parceria teatral que já dura dez anos e rendeu ótimos frutos como o premiadíssimo A História de Topetudo (1996) e a divertida A História de Catarina (1998). Com uma peça especial, obviamente. Mas qual? Aí deve ter começado o dilema das excelentes atrizes Ana Barroso e Mônica Biel, que tomaram essa indecisão como mote para encenar o hilariante Lasanha e Ravioli in Casa, espetáculo que se despede hoje do Teatro Glória para voltar à cena, em outubro, no Teatro Gláucio Gill.

Na pele dos palhaços Lasanha e Ravioli, narradores e protagonistas de todas as peças da dupla, as atrizes ainda conseguem espremer algum caldo da boa, porém manjada, história de Chapeuzinho Vermelho, Sim, porque na falta de algo mais impactante para apresentar ao público na data comemorativa, Lasanha e Raviolli decidem investir em um “novo enfoque” para o conto do francês Charles Perrault.

É a deixa para uma sucessão de brincadeiras espertas que vão expondo e explorando não só os clichês, como o exército do próprio teatro. Como fugir da mesmice? Dando um sotaque misterioso ao lobo e um ar vagamente débil à mocinha? Carregando na dramaticidade das cenas? Ou embutindo no enredo só para dar “uma movimentada”, personagens que não tem nada a ver com o pato, como a fada com jeitão de fräulein que foi pescada de “A história do Topetudo” para provocar seus 30 segundos de riso neste novo espetáculo?

O que Lasanha e Ravioli apresentam do que pretendem transformar em peça. Portanto, o cenário da história de Chapeuzinho é a própria casa da dupla (cenário criado por Ana e Mônica num estilo “casa da vovó”) e a toda hora um palhaço interrompe o outro, criticando ou elogiando o andamento da encenação. São os melhores momentos, aqueles em que as atrizes mostram que só precisam de um pequeno pretexto para exibir seu talento e vocação para arrancar risos.

Muito do charme e graça da peça vem, sem dúvida alguma, da engenhosa simplicidade e inteligência do texto criado por Ana, Mônica e Thereza Falcão, parceria da dupla em “Topetudo” (como diretora) e em “Catarina” (como autora). Valorizada por outra peça fundamental nessa engrenagem – a direção de Moacyr Chaves, o mesmo de “Catarina” – a narrativa flui rápida, sem emperramentos. Uma química de grupo que funciona novamente.

Os ótimos figurinos de Boa Salgado, que também acompanha a dupla há tempos, completam essa saborosa versão caseira de Chapeuzinho Vermelho, que se revela à altura dos festejos de uma década de fértil e divertida parceria teatral.