Crítica publicada na Revista Veja Rio
Por Lívia de Almeida – Rio de Janeiro – 16.09.1996
Ladrões de Boneca – Os Impagáveis reafirma o talento de Teresa Frota
Um dos grandes prazeres reservados ao público – grande e pequeno – que assiste a Os Impagáveis, nova peça escrita por Teresa Frota, é estar diante de um espetáculo que não tem vergonha de ser feito para crianças. Isso não significa, felizmente, um tatibitate cheio de diminutivos, tampouco que a autora se limite a mostrar bichinhos ou brinquedos falantes. Em Os impagáveis, fala-se da violência e questionam-se os papéis pré-estabelecidos de mocinho e bandido. O adorável é que Teresa consegue tratar de temas cabeludos sem perder o contato com as referências do universo infantil. Quem assistiu a A Lei e o Rei sabe do que essa moça é capaz. Agora, em vez de um rei mandão e bobão que inventa leis absurdas, termos uma quadrilha perigosíssima que controla o mercado negro de bonecas Barbie.
A própria Teresa encarna a ressentida bandidona Luxúria, dona de um cabaré e parceira de falcatruas do temido Carcaça (Marcelo Caridad). Os dois planejam roubar a Noiva, última boneca que resta na cidade, e, para isso, ele não exita em namorar a filha do policial Zé de Brito (Cico Caseira), devidamente disfarçado com Carlinhos. Caridad está ótimo, especialmente quando banca o namorado bobão, dentuço e de óculos, mas seu sotaqueitalianoquando faz o gangster às vezes vacila. Heloisa Perissé, como Molly, a filha do policial, tem grande atuação. No início, ela é o protótipo da criança mimada, com voz aguda, batendo o pé e fazendo manha. Da dondoca que precisa trocar de roupa a qualquer momento, ela se transforma em uma hilariante candidata a gângster, de metralhadora lata de goiaba na mão. O espetáculo cresce muito com a entrada dos dois retirantes nordestinos, Severino e Sinfrônio (Nilvan Santos, excelente, e Carlos Lofler), candidatos e artistas de cinema, com momentos a artistas de cinema, com momentos de humor na melhor tradição de Oscarito e Grande Otelo. Para os adultos, um charme a mais são referências cinematográficas sabiamente salpicadas aqui e ali,como o tema musical de …E o Vento Levou, que aparece em um momento especialmente engraçado.
Também não vai passar despercebido do adulto o cuidado que permeia a encenação, com figurinos caprichados, iluminação esperta uso eficiente da projeção cinematográfica como parte da ação. As músicas de Cacau Ferreira de Castro são boas,com destaque para a engraçadíssima canção final, interpretada pelos nordestinos, vestidos com roupa de caubói de cetim cor-de-rosa. Impagável.
Serviço:
Os Impagáveis, de Teresa Frota, direção de Henri Pagnoncelli (65 min). Estreou em 07.09.1996. Teatro Gláucio Gill (170 lugares). Praça Cardeal Arcoverde s/º, Copacabana. Tel: 237.7003. Sábado e domingo, 17h, R$ 15,00.