Crítica publicada no jornal Folha de São Paulo
Por Robson Camargo – São Paulo – 1985
O Grupo Ventoforte nasceu em 1974 no Festival de Teatro Infantil de Curitiba com a peça História de Lenços e Ventos. Nestes onze anos de existência conquistou cerca de 40 prêmios dos mais variados quilates, sendo venerado pela crítica carioca e paulista. Aqueles que assistiram seus vários espetáculos – As Pequenas Histórias de Lorca (77), Mistério das Nove Luas (78), História de um Barquinho (81), entre outros – jamais poderão esquecer os momentos de rara poesia e beleza de suas montagens.
Ilo Krugli, 54, argentino, é o definidor dos destinos deste grupo. Seu caminho na terra brasileira ajuda a entender um pouco a rara mistura de proposta Cênica. Artista plástico, amante das cores e das formas, percorre a experiência do “museu do inconsciente” de Nise da Silveira, no Rio de Janeiro. A pesquisa da produção artística do inconsciente humano, sob todas as formas, o leva ao encontro da criança como raiz das ligações perdidas entre o Homem e o mundo.
Esta ansiedade na localização dos mitos e sonhos, traz nas imagens de seus espetáculos uma vertente surrealista. Neste caminho Ilo se encontra com os mitos da nossa cultura, na procura dos arquétipos e da beleza destas manifestações artísticas. Nos horizontes do grupo não serão nunca encontrados os ranços da coceira nacionalista que sacode o Brasil republicano, mas muitos elementos da história teatral, principalmente da linguagem simbólica narrativa do teatro épico de Bertold Brecht dramaturgo e encenador alemão.
Esta salada brechtiniana-surrealista de |Ilo Krugli é apenas aparente. E foi no engano das aparências que o grupo Ventoforte montou Labirinto de Januário, Um contar de histórias dentro da história, nos remete a um espetáculo de duas horas de duração, que é uma verdadeira viagem pelo sonho e pela realidade do menino Januário, na procura do cavalo com asas. Januário quer chegar a festa da cavalhada onde poderá encontrar seu cavalo alado, mas antes precisa passar pelas portas do mistério. E como todos sabem o mistério tem muitas portas.
Nesta busca acontece de tudo. Alegorias do mito do labirinto de Creta, do “Cavalo Alado”, os fios de Ariadne, elementos de contos de fada, todos percorrem o fio central da narrativa auxiliados pela Água e pelo Fogo que contam a história. Outras cenas lembram claramente Alma Boa de Tsé-Tsuan e O Círculo do Giz Caucasiano e Mãe Coragem, de Brecht e podem ser vistas com grande curiosidade numa nova perspectivas.
O Labirinto de Januário é um painel de reminiscências culturais que passa ainda pelos jogos infantis e por cantigas e festas brasileiras. Este verdadeiro caleidoscópio mitológico teatral rompe com alguns cânones do teatro infantil. O principal é a duração, que excede os normais cinquenta minutos das produções acomodadas. Neste labirinto e nesta história simples, você certamente w3 perderá na extrema quantidade de propostas. Não se atemorize do pedaço de cada um de nós que deve ser encontrado, acompanhada por bons atores e muita música (RCC).