Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 03.01.1998
Clássicos sem didatismos
Em se tratando do gênero, o título vai direto ao assunto: Juveníssimo. No palco, o ator Tadeu Aguiar, também o autor da ideia, divide a cena com a atriz Tina Águas, para falar, brincar e representar o teatro. Mas não uma peça inteira, ou trechos escolhidos aleatoriamente. Nesse teatro, cada intenção é dirigida ao público jovem a que se destina, num invólucro pra lá de atraente. São quatro textos clássicos, escolhidos e ditados por Millôr Fernandes, interligados pela teatralidade bem humorada de Flávio Marinho, que também assina a direção do espetáculo. A plateia, satisfeita, agradece a homenagem.
Os trechos das peças escolhidas, além de proporcionarem um ótimo exercício para atores, falam diretamente à jovem plateia no que se refere a suas questões mais imediatas. Assim, para O Noviço, de Martins Penna, está em foco a vocação.O Pedido de Casamento, de Tchecov, fala sobre a coragem; O Diário de Anne Frank, sobre a eternidade do amor, e, finalmente, A Megera Domada, de Shakespeare, sobre o conflito de relacionamentos. Todos antecedidos de um quase prólogo que situa o autor e sua época.
Correndo na contramão do teatro didático, Flávio Marinho cria um espetáculo de delicioso entretenimento, no qual a participação da plateia é fundamental. Para entender melhor o jogo de cena, são chamados ao palco voluntariamente um contrarregra, um diretor de cena e um sonoplasta, que, satisfeitos, cumprem suas funções. Outro achado do diretor fica com a trilha musical. Para O Noviço, Flávio usa como ambientação My Favorite Things, no melhor estilo Julie Andrews. Já para Os Girassóis da Rússia, super aplicados no cenário de Tchecov, o que se ouve é o Tema de Lar, um hit executado a exaustão no filme Dr. Jivago. Oportunas citações de um cinéfilo convicto.
No palco, Tadeu Aguiar conduz a plateia nessa viagem teatral com a firmeza de um mestre de cerimônias certo do sucesso de seu produto. Conjugando talentos, o ator está muito bem, não só no seu papel de apresentador, mas também nos vários personagens que representa ao longo do espetáculo. Numa linha mais tímida e também muito nervosa na estreia. Tina Águas não acompanha o pique de seu partner, o que às vezes faz cair o ritmo da encenação. Coisas de estreia.
Há seis meses mambembando pelo país, Juveníssimo chega oportunamente ao Teatro Clara Nunes com a função de formador de plateia. A proposta do espetáculo, que para muitos pode estar acontecendo num centro onde se vê teatro demais, é pura ilusão. A ideia de desmontar uma encenação às vistas do espectador não é só necessária, mas muito bem-vinda. Se fosse contabilizado o número de atores que fazem curso de teatro em contrapartida aos que realmente assistem a teatro, verificar-se-ia a absurda diferença nos números apontados.
Dessa maneira, Juveníssimo, com toda sua simplicidade calculada para deixar bem à vontade o público a que se destina, é um espetáculo aconchegante que vai ganhando a confiança de sua plateia na mesma medida em que faz seu convite à representação. Vamos ao teatro.
Cotação: 3 estrelas (Ótimo)