Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 03.09.1977

Barra

Jujuba e a imaginação 


Jujuba, Tringuelim e a Montanha Lilás
, de Hélio Asp e Elza de Andrade, é um espetáculo que vive basicamente da imaginação. Não há cenários, apenas objetos que vão assumindo inúmeras funções durante o desenvolvimento do trabalho. Desta forma, tudo o que não existe tem de ser criado no instante da própria representação, o que permite a plateia infantil, ir se envolvendo e descobrindo com facilidade, numa brincadeira, os objetos podem ir se transformando.

O mais importante, porém, em Jujuba, Tringuelim e a Montanha Lilás não é a motivação para que as crianças, em casa, comecem a fazer o mesmo: de um objeto, criar dez brinquedos diferentes com validade para o aqui e agora. Mais importante que esse despertar da criatividade para o jogo do dia-a-dia é o estímulo ao hábito de se conviver com a eterna possibilidade de transformação, a criação do hábito de improvisarmos sobre os novos acontecimentos sem ficarmos perdidos, de repente, porque a regra do jogo (qualquer jogo) mudou. Deve estar sempre presente, em cada um de nós, a possibilidade de transformar; tanto uma escada numa montanha e uma montanha numa cabana como, também transformar uma dificuldade eventual ou repetitiva do cotidiano: como, e principalmente, se necessário, transformar a própria vida.

As dificuldades realistas que os personagens enfrentam são resolvidas pela imaginação (“Vamos de helicóptero”). E o texto se amplia quando o velho afirma: “Pensei que esse era um lugar ruim, tive medo. Mas, depois, passei a produzir, a criar. Não quero mais voltar.”

O velho num nível bem mais abrangente, também soube transformar a realidade, de modo produtivo e que lhe trouxe a felicidade.

O que não me agrada no texto é o seu final. De repente, se tudo foi um sonho (um final mais que chavão em peças infantis) há a ameaça de que a plateia negue tudo o que acabou se assimilar. A criança pode pensar:

– “Ah, eles transformaram vassoura em barco porque era um sonho. Na vida real é diferente: vassoura é vassoura mesmo.”

O espetáculo, que tem direção coletiva, é simples, bem bolado e tem um ritmo ágil. Apesar da inexistência de muitos recursos, em alguns momentos a montagem e visualmente bem bonita. Os atores (Elza de Andrade, Hélio Asp, Anselmo di Vasconcellos, Fernanda Caetano e Beto Silva) estão bastante firmes. Não há desempenhos brilhantes, mas, também ninguém compromete. Pelo contrário.