Lirismo – Olhar direcionado para as belezas naturais

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Ricardo Schöpke – Rio de Janeiro – 28.08.2010

Há décadas atrás os cientistas estudavam o que seria a projeção arquitetônica de nosso século 21. Naves espaciais nos levariam à lua com a regularidade de um avião, robôs, carros voadores, casas de vidro com comandos de voz, muitas construções de ferro, tubulares e aparelhos domésticos inimagináveis. Entretanto nenhum deles, em suas projeções mais otimistas, conseguiu visualizar este mundo futurista, pós-contemporâneo, com mares, oceanos, árvores, matas e estrelas. O verde era completamente abolido da paleta de cor, devido a ausência total de função em nosso planeta do amanhã. Os anos se passaram e hoje, em plena segunda década do século 21, podemos ver que pouca coisa daquele mundo idealizado tornou-se realidade.

O ritmo alucinado da vida, contudo, nos afastou da natureza mais pura e selvagem, e nos fez perder a sensibilidade da mais singela observação dos fenômenos produzidos por ela. O espetáculo Joaquim e as Estrelas chega até nós para restabelecer esse grande hiato de nossa percepção. Primeiro texto escrito para o teatro infantil por Renata Mizrahi, uma das mais talentosas autoras da nossa atual geração, representa muito mais do que um simples ato do fazer teatral mecânico, onde a grande preocupação é o colocar projetos inconsistentes em cartaz, pelo simples fato do exercício comercial automatizado, congelado por ideias exaustivamente repetidas e com ausência total de conceito. Joaquim e as Estrelas é um texto de grande reflexão, coberto de lirismo e poesia, onde o seu mote principal é direcionar o olhar para a beleza de nossa natureza, e recuperar o mais simples gesto de apreciarmos as estrelas que brilham no céu, todos os dias a nos iluminar.

A peça dirigida por Diego Molina nos leva para um ambiente galáctico. Ao chegarmos, nos deparamos com um planeta em meia lua disposto no centro do palco, e vários outros pendurados – que juntos se transformam em vários objetos no decorrer do espetáculo: cama, tablado da professora, cadeiras entre outros. O diretor optou por uma estética clean, onde cada ambiente é construído e reconstruído com um tecnológico jogo de luzes, em contraponto a uma linha de interpretação lírica / poética, que proporciona assim um ótimo equilíbrio entre estética e verdade cênica.