Crítica publicada no Jornal da Tarde
Por Clóvis Garcia – São Paulo – 08.04.1989
A História de Joãozinho e Maria
Na adaptação de Cesar Teixeira e Waldoni Arseno, um espetáculo bem montado
Enquanto alguns teatros, premidos pela crise e pela falta de planejamento dos órgãos oficiais, suspenderam suas atividades de teatro infantil, incompatível com seus novos objetivos, o teatro pornô como o Aplicado, o Cenarte, a iniciativa privada tem dotado São Paulo de novas casas de espetáculo. Assim, o antigo Cine Capri, no fundo de uma galeria da rua Domingos de Moraes, transformou-se no Teatro Dias Gomes , apresentando, além do espetáculo para adultos, uma encenação infantil, Joãozinho e Maria, de Cesar Teixeira e Waldoni Arseno, sob a direção do primeiro. E, seja pelo interesse da história ou pela situação num bairro carente de teatros, o espetáculo está conseguindo grande público.
A história de Joãozinho e Maria é uma das mais populares e continuamente aproveitada para o teatro infantil, talvez por ser uma das mais antigas, encontrada na tradição de todos os povos. Filiando-se ao tema de “irmão e irmã”, foi formalizada pelos irmãos Grimm, numa narrativa que contém seus elementos essenciais. A incapacidade dos pais de atender às necessidades dos filhos, angústia comum às crianças, a expulsão do lar, que simboliza o momento em que a criança tem que assumir sua independência, a superação da fase oral, a madrasta que figura a mãe mas pode ser odiada por não ser verdadeira, além de outros, são temas que atendem às preocupações da criança em desenvolvimento. Isso explica a popularidade dessa história infantil.
A adaptação de Cesar Teixeira e Waldoni Arseno segue o conto dos irmãos Grimm até o encontro com a Bruxa. A seguir, os autores fizeram algumas modificações, desde a caracterização da Bruxa até a maneira de escapar e os objetivos, creme de beleza em lugar de alimento, que seria a deformação da fase oral. A casa de doces, no original de biscoitos e em outras versões de chocolate, também é pouco acentuada na sua função simbólica. A identificação da Bruxa com a Madrasta, se não é literalmente do conto, se integra na simbologia. Apenas seria dispensável o discurso moralizante, já que a mensagem decorre da própria história.
O espetáculo está bem montado, com músicas de Cleston Teixeira, cenários de J.Paiva, valorizados pela iluminação de Cesar Teixeira, figurinos também de J.Paiva, no estilo de camponeses germânicos. A caracterização da Bruxa escapa ao convencional e se surpreende no início, acaba sendo aceita pelas crianças, como confirmam as vaias. A coreografia, de Silene Pais, é bem realizada pelo elenco, com boas atuações de Waldoni Arseno, Lauro Batista, Jô Costa e Maria Gonçalves.
Joãozinho e Maria
Teatro Dias Gomes
Rua Domingos de Moraes, 348
Tel: 572.9170
Texto: Cesar Teixeira e Waldoni Arseno
Direção: Cesar Teixeira
Cenografia e Figurinos: J. Paiva
Música: Cleston Teixeira
Coreografia: Silene Pais
Elenco: Lauro Batista, Jô Costa, Waldoni Arseno e Maria Gonçalves
Aos sábados e domingos, às 16h
Ingressos: NCz$ 2,00