João Batista. Foto: Paulo Rodrigues

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No Interior, sem Teatro

Eu nunca assisti teatro quando era criança. Eu morava em Barra Mansa, no interior do Estado do Rio e, naquela época, lá não tinha teatro. Só aos 17 anos, eu vi o primeiro espetáculo. Eu me lembro até hoje. A peça se chamava Juju, o Torcedor, era um espetáculo sobre um torcedor fanático de futebol. Como eu queria saber como era teatro, eu e meu irmão Mauro, fomos a Volta Redonda, uma cidade próxima, para assistir a peça. E foi aí que começou meu interesse por teatro. Meu e do meu irmão, que acabou virando figurinista. Vim para o Rio de Janeiro estudar jornalismo, mas eu tinha um interesse por artes, sem saber definir sobre o que. Hoje analisando o que passou, acredito que vim para o Rio mais para ficar mais próximo das coisas que aconteciam por aqui do que pelo curso em si. Eu comecei a fazer teatro na Faculdade de Jornalismo da UFF, em Niterói. Descobri que na Faculdade de Cinema, tinha um curso de interpretação e percebi que tinha muito mais a ver comigo do que o jornalismo. Acabei entrando na Escola de Teatro Martins Pena e fazia os dois cursos ao mesmo tempo. Pouco a pouco o curso de teatro foi ocupando cada vez mais espaço na minha vida e só terminei o curso de jornalismo porque me forcei a fazê-lo, pois já tinha cursado mais que a metade.

Primeira Experiência Profissional

Depois que me formei na faculdade e na escola de teatro, eu trabalhei pouco com jornalismo. Acabei entrando para um grupo de teatro e o jornalismo foi ficando de lado. O grupo se chamava Teatro em Movimento, dirigido pelo Luiz Fernando Lobo, que foi meu último professor na Martins Pena. A primeira peça que montamos não entrou em cartaz, só apresentávamos em escolas. Chamava-se Pau Brasil, com diversos textos de autores brasileiros, falando da identidade brasileira. Foi um trabalho muito interessante. Nós nos apresentamos em muitas escolas, durante quase dois anos, pois naquela época ainda era possível fazer projeto escola. Depois dessa experiência, o Luiz Fernando fundou a Cia. Ensaio Aberto e além de trabalhar como ator, nessa época eu já escrevia também. Eu fiz uma adaptação para teatro de um livro do Lima Barreto chamado Cemitério dos Vivos, e que acabou se tornando o primeiro espetáculo da Cia. Ensaio Aberto. Como ator, trabalhei com Luiz Fernando mais um ano, na própria montagem do Cemitério dos Vivos e em Pierrot Saiu à Francesa de Luis Carlos Saroldi, segunda montagem da companhia.

Surge a Cia. Dramática de Comédia

Em 1994 eu fundei a Cia. Dramática de Comédia, com alguns atores que eram da Cia. Ensaio Aberto. Nós queríamos trabalhar com comédias, alguns queriam trabalhar com teatro para crianças, o que não era o caso do outro grupo, direcionado para um teatro mais político e adulto.Como eu já tinha vontade de dirigir e escrever, quando criamos a nova companhia, eu fiquei com essa parte. Nessa época, eu já não pensava mais em continuar a trabalhar como ator. Na época em que estudava na Escola de Teatro Martins Pena, participei de uma montagem que juntava vários textos de Molière. Um deles, que me chamou muito a atenção pelas situações cômicas, era O Médico Volante, onde o Arlequim fazendo um exame de urina acaba bebendo vinho pensando que é urina. Pensei em adaptar o texto e juntar a isso uma pesquisa prática, ou seja, estudar um estilo de comédia e direcioná-lo para o público infantil. Daí surgiu A Incrível História do Homem que Bebia Xixi, em 1994. Eu coloquei esse nome porque queria muito fazer algo relacionado ao circo-teatro, com melodrama, e um visual que também caminhou para esse lado. Não tivemos patrocínio, montamos quase que fazendo vaquinha, mas o espetáculo foi sucesso de crítica e público. Como o visual do espetáculo era muito forte, isso chamou muito a atenção e o Mauro acabou ganhando o Prêmio Coca-Cola de Figurino. Além disso, o espetáculo tinha uma comunicação muito forte com o público.

Um Trabalho a Partir de Pesquisa

Depois do primeiro espetáculo, surgiu a questão: O que vamos fazer agora? Qual será o próximo passo? Alguém sugeriu montar um adulto, mas eu preferi continuar essa pesquisa. E aí, durante quatro anos acabamos montando espetáculos que eram adaptações de clássicos, de comédias. Sempre diferentes da anterior, mas seguindo uma linha. Assim, se seguiram: Volpone, o Morto mais Vivo do Mundo a partir do Bem Johnson, em 1995; Esconde-Esconde, adaptação do Judas em Sábado de Aleluia do Martins Pena, em 1996; e por último E-pa-mi-non-das, que era um conto do Arthur Azevedo, que eu transformei meio em “vaudeville”, em 1997. Quer dizer, pesquisamos comédia dell´arte no primeiro, teatro elisabetano no seguinte, depois as comédias do Martins Pena e finalmente o vaudeville. Então, o objetivo inicial do grupo, trabalhar com estilos diferentes de comédia, direcionados para criança, foi alcançado.

Um Grupo Coerente

Eu acredito que a trajetória da companhia tem muito a ver com o primeiro espetáculo, que foi O Homem que Bebia Xixi, um trabalho no qual nós resolvemos ousar juntos. Por exemplo, nos figurinos a gente pensou separadamente a função de cada um dos personagens dentro da história, sem querer fazer uma coisa uniforme. Nós misturávamos muita coisa. O trabalho tinha uma diversidade muito grande de informações, mas no final tudo cabia. E isso, de certa forma, aconteceu nas outras montagens. A gente se divertiu muito criando os espetáculos. Acho também que uma das características fundamentais da Cia. é o fato da equipe técnica fazer realmente parte do grupo e trabalhar diretamente nos ensaios, o que facilitava uma série coisas do “fazer”, porque literalmente nos fazíamos quase tudo. Além disso, eu contava com atores muito disponíveis, que ajudavam em tudo. Devo dizer que sou fã de atores. Quando eu vou ver um espetáculo, mesmo que não seja bom, se tiver atores com um trabalho interessante, eu já fico feliz. Então, eu sempre insisto que se o lado visual dos meus espetáculos sempre foi muito forte, nada seria realmente bom, se por baixo daqueles figurinos, não tivéssemos bons atores. Se nossos espetáculos tiveram uma pesquisa visual aprofundada, fizemos também um trabalho de pesquisa de interpretação. Em 2002 montamos O Mundo é Grande, que é um espetáculo um pouco diferente na trajetória da companhia, porque além de ser um texto original meu, era uma coisa mais contemporânea, sobre a amizade de um menino de rua e um de classe média… Foi uma experiência muito bacana. Em 2004, montamos Caia na Gandaia, adaptação de uma chanchada da Atlântida. Esse espetáculo eu creio que coroou nosso caminho. Sempre conversamos sobre comediantes como Oscarito, Grande Otelo, Costinha e também outros de programas de televisão, como A Praça é Nossa… a velha surda, que eu adorava… A gente sempre buscou referências da comédia brasileira, mesmo trabalhando com textos estrangeiros. Isso também ajudou a dar uma cara à Companhia.

Da Grande Efervescência ao Nada

É engraçado pensar que podemos dizer que tudo isso aconteceu no século passado. As coisas mudaram muito. Apesar de ser tudo muito recente, dá certo saudosismo. Depois dos quatro espetáculos seguidos, montamos em 1998, o George Dandin, de Molière, destinado ao público adulto. O espetáculo não fez sucesso, não tivemos o mesmo retorno dos espetáculos anteriores e acho que isso acabou por desestruturar um pouco a Companhia. O resultado é que ficamos um tempo parados. Quando voltamos em 2002 montando O Mundo é Grande, eu vi que as coisas tinham mudado. A maneira de produzir, o espaço em jornal… Eu fico extremamente revoltado quando vejo o espaço que existe hoje para o teatro infantil nos jornais. Naqueles anos em que produzimos um espetáculo atrás do outro, tivemos publicado fotos de meia página, as informações do release eram integralmente publicadas, tinha crítica no JB, no Globo, em outros jornais. Tinha o Prêmio Coca-Cola, Prêmio Mambembe e eram publicadas listas dos melhores do ano… Isso era um material que ajudava nas vendas para escolas, nas viagens… Não é uma questão de vaidade. É que aquilo tudo garantia um tempo de vida maior para as produções. Aí, tudo foi diminuindo, diminuindo e o espaço nos jornais acabou. Não só do teatro infantil. Quem tem páginas inteiras nos cadernos de fim de semana hoje, é a gastronomia. É o brioche da Padaria X, o coquetel do Bar Y… Tem páginas e páginas sobre isso. E quando você vai para as páginas de teatro, e ler sobre o lançamento de uma peça de um amigo, que você sabe que é boa, tem uma foto mínima, ridícula. Toda sexta-feira, quando vejo as revistas de fim de semana, me dá um incomodo muito grande. Sei que ações como a do CBTIJ, a vinda do Prêmio Zilka Salaberry tentam alterar um pouco essa realidade, mas o que mais me incomoda é o espaço dado na mídia. Na verdade, não é um espaço para aparecer, mas para dar visibilidade aos grupos para poderem continuar seu trabalho. Falta também dar referências ao público. Por exemplo: um tempo atrás, eu fui ver um infantil no Shopping da Gávea, porque uma ex-aluna minha participava. Não era bom. Lá eu encontrei uma amiga com o filho, que o levava pela terceira vez. Eu perguntei se ela tinha gostado, ela disse que não, mas como não sabia em que peça levar o filho, pois não tinha mais referência dos espetáculos pelos jornais, ela preferia levar lá no Shopping, para não ter que ir a outro teatro e ver algo que também não iria gostar. Como o filho dela gostava das músicas, ela preferia voltar no mesmo espetáculo, que era perto da casa dela. E não é uma pessoa sem noção das coisas. Mas falta realmente informação. Como uma pessoa pode se informar se não tem resenha, não tem crítica, não há mais matérias sobre os espetáculos? O que realmente fazia as pessoas procurarem os espetáculos era toda a informação prestada aos leitores.

Novos Tempos, Novas Ações

os primeiros anos da companhia nós nos encontrávamos mais regularmente. Agora nos reunimos quando temos um projeto específico de montagem. Sempre montamos com nossos próprios recursos. O único espetáculo que contamos com patrocínio foi o Caia na Gandaia, que teve patrocínio da Telemar. No início, nós vendíamos espetáculos e tirávamos uma cota para os projetos futuros. Hoje em dia, isso é bem mais difícil. Mas estamos com A Bolha voltando a fazer sem patrocínio. Nós nos reunimos, conversamos e eu resolvi escrever um espetáculo que fosse um bom exercício para todos sem depender de maiores produções.

Teatro para Todas as Faixas Etárias

Durante toda a trajetória da Companhia, principalmente quando íamos a festivais, nós sempre debatemos a questão de que faixa etária a que se destinava nossos espetáculos. Eu dizia: “A nenhuma e a todas”. Eu não acredito muito em divisão de idades para cada tipo de espetáculo. Isso pode ser meio polêmico, mas cada um tem sua opinião. Nosso grupo sempre se sentiu fazendo teatro e não apenas fazendo teatro para crianças. Fazemos teatro para todos. Não existe barreira de idades na minha cabeça. O legal do teatro infantil é quando o pai e o filho vão ver o espetáculo e tem assuntos para conversar depois que saem do teatro. Eu acredito nisso. E só se consegue fazer algo realmente bom, quando se acredita no que se está fazendo. Na história da Companhia houve vários momentos em que fomos questionados. Por exemplo, Volpone era uma peça que começava com um personagem gritando “Viva o dinheiro”, tinha um personagem que no original que era uma prostituta, e embora não tenha utilizado essa palavra, também não aliviei. Isso era questionado por algumas pessoas, se esses temas eram para crianças. O Mundo é Grande que fiz em 2002, também teve polêmica. Era a história de amizade de um menino de rua com outro e classe média. Tinha um momento que os dois brigavam e o menino de rua chamava a irmã do outro de piranha. Isso ocasionou até carta no jornal, onde uma mãe se queixava de ter levado sua filha numa peça em que falavam palavrões. O jornal me ligou para responder e eu disse que isso fazia parte no contexto da história e que iria continuar. Eu acredito que tem que se apostar na inteligência e na capacidade de entendimento da criança Não que não se possa fazer um bom teatro com bichos e fadas. Já vi alguns que eram muito interessantes. Mas acho que o meu caminho é outro. Eu sempre procuro textos que tenham algum mote que possa interessar às crianças. Por exemplo, em Judas em Sábado de Aleluia, do Martins Pena, o soldado Faustino se veste de Judas, se pendura como se fosse um boneco e fica na cena assistindo tudo. Eu achei que esse jogo, essa brincadeira, interessaria às crianças. Mas tem várias coisas que podem pesar no espetáculo, que divertem, que ofereça um visual interessante, que mostre personagens de carne e osso que tenham apelo com o público.

Trabalho em Conjunto

O diretor tem que saber o que quer. Tem que saber aonde quer chegar, mas tem que dar espaço para as pessoas criarem. E tem que saber abrir mão quando surge uma ideia melhor. Por exemplo, eu acho que o trabalho da Dóris Rollemberg, do Mauro Leite e do Renato Machado é muito forte. A colaboração de cada um deles foi fundamental em todos os meus trabalhos. Como eu tenho um foco centrado nos atores, a gente, na maioria das vezes, começa pelos figurinos. Quem são esses personagens, como eles são? Depois partimos para o cenário. Como eles vivem? Onde eles transitam? No nosso primeiro espetáculo, O Homem que Bebia Xixi, teve uma coisa que por um momento me pareceu assustador, mas que depois, acabou dando uma cara à Companhia: O espetáculo tinha todas as cores possíveis. O figurino era coloridíssimo. Quando eu pedi um cenário neutro, a Dóris veio com a ideia de colocar mais cores. O Renato resolveu colocar umas luzinhas coloridas também. Eu topei e depois, vi que a reação do público era muito boa. As crianças ficavam fascinadas com tudo aquilo. No Esconde-Esconde  resolvemos usar referências de casas brasileiras: crochê, tapetinho, cesta de frutas, muito xadrez, bonecas de pano… Aí partimos para criar o figurino, cenário e luz, para saber pensando em como utilizar aquelas referências. Por exemplo, usamos o crochê para fazer luminárias penduradas no teto, o xadrez no chão… e assim por diante. Cada elemento era muito interessante, mas o que era bom mesmo era ver todos os elementos juntos, com os atores em cena. E isso tem a ver com o fato de a equipe estar sempre trabalhando junto. O ponto de partida é sempre meu, mas eu já me surpreendi muito com ideias de outras pessoas e abri mão de ideias iniciais em prol de outras que achei melhor. E à medida que a gente foi traçando um caminho, conversando sobre comédia e comediantes, os atores também foram dando suas contribuições. Por exemplo, no espetáculo E-pa-mi-non-das, que aliás, apresentamos esse ano na Mostra SESC-CBTIJ, tem uma entrada em cena da Sonia Praça, que é muito engraçado, e que partiu dela. Acho que eu nunca teria aquela ideia. Em certo momento, em que a personagem entra irritada, com uma vassoura na mão, eu pedi que ela fizesse uma entrada forte. Ela entrou gritando, dando um pulo, fazendo um ninja. Na primeira vez, no ensaio, eu levei um susto enorme! Mas acabou ficando. A plateia sempre vem abaixo nesta cena e é algo em que eu nunca pensaria. Uma coisa importante no trabalho da Companhia, que eu acho que tem a ver com o trabalho que fazíamos na época em que trabalhamos com o Luiz Fernando (Lobo) é uma forma diferente de criar os personagens. Por exemplo, um personagem pode ser uma coisa numa cena, ser outra coisa em outra cena, e até uma terceira se for o caso. E dar um espaço pra plateia pra completar esse quadro. Eu dou aula para crianças e adolescentes e eu sempre falo pro meus alunos que o bom é você não conseguir definir o personagem com adjetivo só. Que é interessante é ter vários adjetivos e até contraditórios. Na Companhia a gente sempre usa isso. Voltando ao personagem da Sonia Praça, na primeira cena ela era um doce com o marido, mas reagia de uma forma totalmente diferente na cena ninja da vassoura. Às vezes, os próprios atores resistiam um pouco a esse tipo de encenação, mas aos poucos, foram se acostumando e dominando esse código. O bom do teatro é quando a gente se surpreende com os atores e com a cena.

Algo Fundamental Para as Crianças

Eu sempre digo que o teatro infantil é uma aposta na sensibilidade e na inteligência da criança. Também é mágico para as crianças verem aqueles atores no palco e depois, após o espetáculo, conversarem com eles. Eu não sou saudosista, adoro as novas mídias, cinema, computador, etc. Mas acredito que o teatro toca a criança de uma forma diferente e que é uma forma fundamental para o seu desenvolvimento. Eu trabalho com crianças e adolescentes que fazem teatro, e vejo o quanto isso os transforma, o quanto isso faz com que eles enxerguem o mundo de uma forma diferente. O teatro infantil tem essa força. Esse é um contato fundamental para as crianças. É uma aposta na sensibilidade.

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Participação em Espetáculos para Crianças e Jovens

Como Autor e Adaptador

2001 – A Moreninha, a partir do texto de de Joaquim Manuel de Macedo, direção Tânia Nardini
1997 – Me Segura Senão eu Danço, direção Tânia Nardini

Como Autor e Diretor

1994 –
A Incrível História do Homem que Bebia Xixi,
1995 – Esconde-Esconde, adaptado de O Judas de Sábado de Aleluia, de Martins Penna
1996 – Amigas x Amigas
1997 – Epaminondas, adaptado da obra de Arthur Azevedo
2002 – O Mundo é Grande
2004 – Caia na Gandaia
2008 – A História de Romeu e Julieta, adaptado a partir de Willian Shakespeare

Como Diretor

2003 – As Aventuras de Robinson Crusoé, de Eduardo Rieche baseado no original de Daniel Defoe

Participação em Espetáculos Adultos

Como Diretor

1998 – George Dandin, adaptado de Molière
2006 – A Bolha, também texto
2008 – O Homem da Cabeça de Papelão. adaptação a partir de João do Rio
2010 – A Caolha, também texto
2011 – Bartleby, o Escriturário, também adaptação do texto
2012 – Chagall, O Poeta com Asas de Pintor
2013 – Quando a Gente Ama, também texto, com músicas de Arlindo Cruz

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Depoimento realizado no Teatro Cacilda Becker, dentro do Projeto Encontros & Oficinas, em 01 de agosto de 2006.