Crítica publicada no Jornal do Commercio
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 22.02.1997
Companhia traz proposta válida, mas que precisa ser amadurecida
O Pequeno Teatro de Animação Paralux é uma companhia que se destina à criação de espetáculos musicais infanto-juvenis e adultos. Liderada por Fernando Bechy, ocupa, atualmente, o Espaço 2 do Teatro ViIla-Lobos, sob os auspícios da Funarj, buscando linguagem e estéticas próprias – uma companhia de repertório voltada para a linguagem de animação.
O primeiro espetáculo apresentado pela companhia é Jesus da Neve e do Sol – contos de Dostoievsky e Maria Clara Machado, adaptados para o teatro. Na verdade são dois espetáculos independentes, interligados pela temática – recontos da mística do nascimento do Menino.
As técnicas do teatro de animação são muitas e diversas, mas com certeza o Teatro Paralux opta por caminhos não os mais comuns. Trabalhando normalmente com grandes escalas, o Teatro de Animação sempre tem sua linguagem crítica em cima do exagero, dos grandes contrastes; diversamente o Paralux trabalha com bonecos de pequena escala, o que, se por um lado, empresta uma delicadeza ímpar ao espetáculo, por outro, o mimetismo do humano, que é o encantamento do boneco, se perde, e os títeres têm movimentação e articulação limitada, o que acreditamos possa ser revisto e aí se conseguir um efeito surpreendente. A própria construção dos bonecos pode ser revista para permitir uma articulação mais adequada para manipuladores com habilidade chinesa.
O primeiro conto, de Dostoievsky, está, sem dúvida, muito mais pronto para ser encenado que o segundo, embora ainda necessite de ajustes de manipulação e tempo. Mas tem um forte lirismo, sublinhado por uma luz bastante mágica, que se complementa com uma trilha sonora competente. A opção por uma narração do conto reduz a força dramática dos bonecos, que muitas vezes funcionam como ilustração. Mas o espetáculo, que parece uma caixa mágica cinematográfica, tem um encanto especial; que é um caminho interessante a ser buscado pela companhia.
Já o segundo conto, de Maria Clara Machado, está ainda bastante imaturo para ser apresentado ao público. Com grades tempos mortos e manipulação ainda incipientes, revela, no entanto, uma dramaturgia, menos descritiva que o primeiro. É um caminho, que, acreditamos, possa vir a dar bom resultado pelo que apresenta hoje em cena, mas que precisa de maior preparação.
A estética proposta pela Paralux é uma estética europeia, requintada, um tempo dilatado, uma manipulação detalhista, minimalista, mesmo, que faz com que funcione como uma caixa de brinquedos, com técnica próxima ao do Toy Theatre. O Pequeno Teatro de Animação Paralux é uma iniciativa válida que precisa de tempo para amadurecer e encontrar seu caminho próprio através da pesquisa e ensaio; é uma estética não habitual de se ver no teatro para crianças e que, por isso mesmo, parece interessante que se acesse a esse público obras como estas, baseadas na literatura universal, como o belíssimo conto de Dostoievsky levado à cena.