Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 07.09.2003
O Jardim das Borboletas: Peça em cartaz na Sala Baden Powell tem ficha técnica heterogênea
Divertida fábula musical sobre o crescimento
Se os espetáculos musicais para adultos já conquistaram um público cativo no Rio, o mesmo gênero, na versão infantil, começa a dar os primeiros passos. Tanto em popularidade quanto em apuro da técnica. Como mostra O Jardim das Borboletas, com direção de Luis Salém e direção musical de André Poyarte e Rogério Guimarães, em cartaz na Sala Baden Powell.
Esta é a quarta montagem do singelo texto de André Adler, que pode ser visto como uma fábula musical sobre o crescimento. A história, encenada pela primeira vez em 1973, retrata a convivência de um jardineiro com os habitantes de um jardim: um grilo, uma lagarta, uma borboleta, uma abelha, um vaga-lume e um girassol.
Músicas bem cantadas por um elenco heterogêneo
E, provavelmente, as crianças da plateia irão se identificar com alguns dos personagens da peça. O descolado grilo, vivido por Celso André, é aquele tipo de menino que não gosta muito de estudar, fala muita gíria e faz sucesso entre as meninas. E o ator consegue dar conta do personagem, no canto, na dança e na atuação, conquistando a garotada com sua ginga. As atrizes da peça também fazem bonito no musical. Thais Gulin, a ansiosa lagarta que não vê a hora de virar borboleta (uma alusão às meninas que não aguentam mais esperar para usar salto alto e maquiagem), tem uma boa presença no palco e uma linda voz. Juju Gomes, além de cantar muito bem, compõe uma confiante e divertida abelha. E Marcia Liedke, como Duse, também tem presença graciosa na peça.
André Poyart, como vaga-lume, sai-se melhor cantando, do que interpretando seu personagem. Enquanto Rogério Guimarães, o jardineiro, e Fernando Codeço, o girassol, parecem bem menos experientes do que o resto do elenco.
O trabalho dos profissionais da ficha técnica do espetáculo também é desigual. Se o cenário de Gringo Cardia, dividido em planos altos e baixos, favorece a movimentação dos atores no palco durante as coreografias, não acrescenta muito ao espetáculo por não fazer referência ao jardim onde se passa a história. E as bolas vermelhas espalhadas pelo palco, adereços incluídos por Daniela Brandão, não têm nenhuma função a não ser encher o palco.
A coreografia de Daniela Amorim (não se sabe se uma decorrência da limitação corporal de parte do elenco) parece bem confusa em alguns momentos, como durante a
transformação da lagarta em borboleta. E sem muita expressão nas cenas em que o elenco fica batendo palmas ou acenando para a plateia, enquanto um dos atores canta.
Os figurinos de Daniela Brandão e Luis Salém têm um bom efeito, assim como a iluminação de Jorginho de Carvalho.
André Poyarte e Rogério Guimarães acertam na direção musical, criando novos arranjos para as músicas originais: de Taiguara, Jorge Omar, Paulo Imperial, Eduardo Souto Neto e Zé Rodrix.
Para um público com olhos menos apurados e exigentes como no caso do infantil, O Jardim das Borboletas é um saudável divertimento.