Humor inusitado em cena.
Foto Angela de Almeida


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 12.11.1994

Barra

Modernas palhaçadas

Existem casas de espetáculos que construíram sua história pelo tipo de plateia que cativaram. Dos sobreviventes se destaca o Teatro Ipanema. Um templo no auge da hippie generation, por lá passaram, entre outras, as cult-montagens de Hoje é Dia de Rock A China é Azul. A década seguinte se dividiu entre o pioneirismo do Asdrúbal Trouxe o Trombone e shows musicais alternativos, que acabaram lançando algumas pop stars no cenário artístico. Da explosão ao marasmo, muita coisa aconteceu. Mas os cultuadores ou não dessa instituição já tem motivos de sobra para festejar.

O sol voltou a brilhar no palco de Ipanema. Por lá, os Irmãos Brothers realizam um misto de espetáculo e despacho teatral capaz de acordar os mais sonolentos deuses do Olimpo. Concebido e dirigido por Jorge Fernando, esse show de talentos para palhaços modernos tem de tudo um pouco, reverenciando mestres como Buster Keaton e os Irmãos Marx, sem dispensar o toque melancólico de Chaplin ou o molejo de Carequinha.

Alberto Magalhães, Dalmo Cordeiro, Eduardo Andrade e Ricardo Resende – os brothers – realizam no palco números acrobáticos e malabarísticos com tempo teatral exato. Vindos em sua maioria da Intrépida Trupe , os ir,aos repetem algumas cenas que, mesmo já conhecidas – o macaco que escala as cadeiras dos espectadores ou a chuva de pistola d’água -, fazem o delírio da plateia. Outras cenas, criadas para o espetáculo – como a do troglodita que não descobre a roda, mas inventa o malabarismo com as clavas, ou o entreato com mulher, marido e amante que termina num incrível número de prestidigitação com caixas -, se destacam pelo humor inusitado.

Com painés supercoloridos que se sobrepõem e que trazem a imagem do quarteto, os cenários de Eduardo Andrade são interessantes molduras para a ação dos clowns. A iluminação de Rogério Wiltgen é precisa, das luzes da ribalta ao arco-íris de spots no fundo do palco. Já os figurinos de Jefferson Miranda vestem bem apenas os rapazes, ficando um tanto prejudicado o lay out das Irmãs Sister, mesmo que com episódica participação.

Irmãos Brothers, esse espetáculo diferente e inovador, que começa pelo final, pode ser visto como um berro teatral pré-carnavalesco ou como um lançamento de verão. Mas é, sobretudo, um imperdível acontecimento.

Irmãos Brothers está em cartaz no Teatro Ipanema, aos sábado e domingos, às 18h. Ingressos a R$ 6.

Cotação: 3 estrelas (Bom)