Irmão Grimm, Irmão Grimm, de Luiz Duarte no Teatro Villa-Lobos

Crítica publicada no Jornal do Brasil, Caderno B
Por Eliana Yunes – Rio de Janeiro – 11.04.1987

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Um Novo Conto de Fadas

Pelo menos no âmbito dos contos de fada, as crianças e adultos do Rio estão bem aquinhoados nos palcos. Menos de dois meses depois da estreia de dois meses da estreia de A Bela Adormecida, de Fernando Berditchevsky com Miriam Rios, em cartaz no Carlos Gomes, o Teatro Villa-Lobos leva ao palco Irmão Grimm, Irmão Grimm, de Luiz Duarte. Ambas com o rigor técnico e o investimento mais frequentes em peças não-infantis e por isso mesmo trabalhos capazes de satisfazer a grandes e pequenos.

Muito já se tem escrito sobre a importância dos contos de fada, feitos do mesmo tecido dos sonhos e da poesia. Este texto foi elaborado em 1986, durante o bicentenário dos irmãos Grimm, e vai ser lançado neste sábado, no Cine Estação Botafogo às 14 horas, numa edição da Kuarup de Porto Alegre. Nele, o jovem autor dava trato à imaginação e transformava os filólogos alemães, que coletaram fidedignamente os contos de fada como material folclórico ao longo do século XIX, em personagens de “suas” histórias fantásticas. Nada mais junto com quem fez tanto para eternizar Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, Branca de Neve e Os Músicos de Bremem, entre outros. Lá estão todos eles, também no palco, em um achado estrutural: contam-se os contos e também como e por que foram escritos e preservados, até hoje, numa versão mágica que nada fica a dever àqueles. O recorte e a colagem, longe de enfraquecerem a mágica, propiciam apenas a inserção de dois personagens tão fantásticos quanto reais,
que vivem num conto de fadas dentro do qual se desenrolam todos os demais.

Com Márcio Augusto e Luiz Niño em bom desempenho nos papéis-título, iluminação excelente de Luiz Paulo Neném, figurinos impecáveis de Rosa Magalhães, cenários justos de Américo Issa e Luiz Duarte, a peça incita a um “quero-mais”. Conseguindo um equilíbrio harmonioso entre a narrativa e as emoções vividas, reconstitui o clima dos contos de fada que não têm idade: crianças mergulham no mágico e adultos contemplam atentos cada cena. Enquanto A Bela Adormecida preserva à letra a versão o conto transporta para o cinema Irmão Grimm, Irmão Grimm  joga com intervenções no texto que, sem danificá-lo, o atualizam. A montagem é rica sem excessos e o recurso à coreografia de Regina Polverelli às músicas de Roger Henri e Duarte para narrar uma série de outros contos (enquanto eles vão sendo escritos na tentativa de escapar da maldição da bruxa maléfica) é perfeita.  Assim como as doses de humor que se alternam com os momentos de medo e mistério, de modo a conferir ao espetáculo um equilíbrio geral de emoções.

Tem-se mesmo a impressão de que os contos baixaram à terra e nem por isto perderam seu encantamento. O elenco que representa, canta e dança, tem grandes momentos, em especial com Paulo Bibiano na figura de um gnomo. Para os mais exigentes, um trabalho na medida certa.