Crítica publicada no O Globo
Por Rita Kauffman – Rio de Janeiro – 25.11.1983

Barra

Uma Viagem de Roteiro Mal Traçado

A Incrível Viagem, peça em cartaz no Teatro Villa-Lobos, marca duas estreias em teatro infantil: a de Doc Comparato como autor, e a de Júlio Braga, como diretor.

O primeiro, 31 anos, roteirista dos melhores da TV Globo (seriados Malu Mulher e Plantão de Polícia, entre outros programas), com incursões pelo cinema e pela literatura infantil (Nadistas e Nudistas) e adulta; e Julinho Braga, 29 anos, desde os 15 atuando em teatro, tanto infantil quanto adulto, em cinema e em TV. Ambos com currículos respeitáveis, bem como os do elenco e da equipe técnica de A Incrível Viagem. Como explicar, então, que essa viagem de 50 minutos pareça levar 50 horas? Talvez por causa da história da Brisa, protagonizada por Élida L’Astorina, a Duda da novela Pão, Pão, Beijo Beijo, aqui pouco convincente, que não se conforma com não ter cor; chegando à conclusão obviamente moralista e comodista de que “o importante é ser, não ter” (será?), se transforma num pingo de chuva que toma a cor dos lugares por onde passa (alface, verde: estômago, preto; e daí por diante). A trama é confusa e não oferece ao público as opções pretendidas, tanto pelo autor quanto pelo diretor, de “viajar nesse maravilhoso mundo infantil, cheio de cores e símbolos, com a velocidade e o pique de seu tempo”.

O elenco, afora algumas tentativas de Claudia Jimenez (Nuvem), não consegue se mostrar cenicamente; até a música de Caíque Botkay não entusiasma nessa “Viagem”, que se pretendia incrível e que merece ser revista por seus realizadores, caso ainda mantenham seus propósitos iniciais.