Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 06.07.1975

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Os Três Mosqueteiros

As Incríveis Aventuras dos Três Mosqueteiros, em cartaz no Teatro Gláucio Gill, se pretendeu ser uma adaptação do clássico de Alexandre Dumas conseguiu se transformar, apenas, numa diminuição da obra. Resta, somente, um fio de enredo muito tênue, sem riqueza de situações, sem emoções, sem atmosfera. O autor (quem é) buscou em certas horas um tom de non-sense, mas utilizou-o de forma arbitrária. Não havia relação alguma entre o restante da obre e certas frases como Vai-se a primeira pomba e despertar; Aramis, sobrinho de Capitão América E afilhado de Guilherme Tell; a Leopoldina do Brasil, afilhada do imperador do Piauí. E não houve relação, também, entre o tom de non-sense e a impostação do espetáculo. (Além do mais, essa impostação nunca se define).

O diretor (quem é?) ameaça, de vez em quando, a adoção de um tom crítico-avacalhado nas cenas do Palácio, mas essa tentativa é inócua, na medida em que fica tudo sempre muito diluído e pouco definido em termos formais. Há uma total pobreza de imaginação quanto às marcas e a movimentação, as entradas e saídas não são bem resolvidas e a intenção de fazer com que a música alegre e dinamize o espetáculo não funciona em consequência de uma coreografia paupérrima e do uso do playback para as canções. As lutas de espada não conseguem ser nem realistas nem estilizadas, impedindo que a cena obtenha um mínimo de veracidade. E porque colocaram uma mulher para fazer o papel de Portos?

O elenco demonstra claramente sua inexperiência: faltam técnica, vivência, verdade. O melhor trabalho fica com atriz que faz Portos, apesar de tudo: ela (quem é?) é engraçada, comunica bem e tem o saudável hábito de representar mesmo quando não está falando. A Rainha (quem é?) funciona bem o tom mais avacalhado, mas, com uma cena mais séria, a atriz não consegue alcançar suficiente credibilidade. A favor do elenco, uma palavra de solidariedade: é realmente muito difícil representar naquele cenário ondulante da peça Voo dos Pássaros Selvagens (esse é um problema eterno causado pela ausência de infraestrutura do teatro infantil. Até quando isso permanecerá assim?). O cenário móvel (de quem?) é uma boa ideia principalmente porque já leva em consideração a falta de espaço cênico com que lutam os grupos de peças infantis: pode ser utilizado em qualquer lugar. O que falta para que a ideia do cenógrafo seja expressiva dentro da montagem é maior qualidade artesanal. Já os figurinos são muito ruins (de quem são): pecam pelas combinações de cores, pecam pela mistura de estilos, pecam pela feiura de certos trajes.

Enfim, mais um espetáculo para crianças onde há carência técnica e artística.

Recomendações:
A Viagem de Barquinho, no SENAC; Pluft, no Tablado; Maroquinhas Fru-Fru, no Opinião; Estória da Moça Preguiçosa, no Quintal, em Niterói.