Perdidos na selva – O luxo dos figurinos opõe-se à proposta ecologicamente correta da peça: tema é diluido pela comédia escrachada

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Ricardo Schöpke – Rio de Janeiro – 06.02.2010

Um desastre ecológico no palco 

Repleto de clichês, espetáculo não consegue passar mensagem ambiental proposta no texto 

A cada ano que passa, nosso planeta vem emitindo sinais de alerta sobre a sua iminente destruição. Desmatamento desenfreado da Amazônia, o pulmão do planeta terra. Mudanças no clima, com consequências radicais nas temperaturas das estações do ano. Tufões. Furacões. Tsunamis. De uns tempos para cá, no Brasil, mais precisamente depois da Rio Eco-92, os jornais, a TV, a literatura e o teatro passaram a dar enfoque a temas tão importantes à preservação das espécies e do planeta.

Dito isso, a dramaturgia do espetáculo As Incríveis Aventuras da Turma do Oco do Toco, adaptada para o teatro por Vicente Couto, se apresenta como um texto datado, carregado de clichês e lugares comuns. Todas as questões abordadas no texto da peça já foram apresentadas diversas vezes na literatura e no teatro de uma forma muito mais original e artística, assim como todo o enredo e personagens do espetáculo são óbvios ao extremo.

Os personagens da narrativa – o vaga-lume Vaguinho, a abelha Mel, o cupim Zé Pedro, a borboleta Ritinha, a joaninha Socorro e o gafanhoto Aurélio – são orientados a fazer uma pesquisa pedida pelo Professor Pica-Pau, e com isso eles ultrapassam os seus limites (o suposto paraíso) e vão para uma área proibida (o suposto inferno), onde encontram traficantes de animais: a maquiavélica caçadora Lady Arapuca e o seu cão Estilingue. A partir desta trama, o diretor Sérgio Menezes tinha duas possibilidades. Transformar este precário material em, pelo menos, um digno espetáculo de teatro, caso imprimisse ao texto adaptado um ponto de vista mais autoral na encenação; ou trilhar por caminhos tão óbvios como os apresentados. Infelizmente, Menezes decidiu-se pela segunda opção, valorizando o que o texto apresenta de pior, e potencializando tudo o que, há anos, a classe luta para eliminar do teatro para a infância e juventude no Brasil.

É explorado o riso mais do que fácil, através de piadas com programas de TV popularescos

O caminho escolhido foi o do luxo exacerbado e do esvaziamento do conteúdo ecológico, através da comédia superficial e escrachada. Despropositados para os insetos, o brilho e opulência dos figurinos – que, a despeito de seu acabamento impecável, ficam deslocados num contexto que, a princípio, deveria estimular o uso de materiais recicláveis – chegam a incomodar o espectador.

Tudo na linha de interpretação da peça é focado na banalização de um tema tão caro à humanidade. É explorado o riso mais do que fácil, através de piadas desnecessárias com músicas, programas de TV e personagens conhecidos pelos seus bordões de gostos duvidosos e popularescos. As marcações de cena são frontais ao extremo, aleatórias e exageradas. A linguagem é puro tatibitate, infantilizada, com palavras mastigadas quase que sílaba a sílaba. A escolha dos personagens, sem exceção, é equivocada: todos apresentam interpretações extremamente carregadas de afetação (olhos esbugalhados, voz alta e muitas caras e bocas). A iluminação de Aurélio de Simoni é adequada, porém acaba por contribuir com o imenso carnaval de cores, poucas vezes visto em um espetáculo para crianças. A direção musical de Marcelo Alonso Neves e a composição musical de Tauá Delmiro apresentam músicas com arranjos previsíveis e letras fracas, assim como a coreografia de Daniel Moragas. O mais interessante esta na cenografia de Nello Marres, com o uso de tapadeiras com materiais recicláveis, que colabora também para um bonito efeito de luz.