O excelente elenco se multiplica em vários personagens durante a peça. Foto: Luciana Leal

Crítica publicada em O Globo
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 1994

 

 

 

 

 

 

Barra

 

Simplicidade arranca aplausos

O tablado se destaca pela total ausência de cenários. De um lado e de outro, apenas dois biombos vazados abrigam uma infinidade de apetrechos coloridos. Espalhados por ali, os atores fazem os últimos preparativos para entrar em cena. Tudo parece meio casual, como se o público estivesse assistindo a um ensaio. Entretanto, A Inacreditável História de Marco Pólo e Sua Exuberante Viagem ao Oriente, é uma peça cuidadosamente pensada e primorosamente encenada pelo Núcleo de Teatro para a Infância do Centro de Demolição e Construção do Espetáculo.

Para contar essas mirabolantes aventuras que já renderam muitas versões, inclusive no cinema, o grupo optou pela simplicidade. E é aí que reside o principal trunfo desta montagem, bem dirigida por Dudu Sandroni. O texto de Fátima Valença começa apresentando a história do sonhador italiano que, um dia, abandonou a família para conhecer a estranha terra já visitada – ou não?- pelo seu avô. Neste início, cenas hilariantes acontecem entre Marco Pólo (Maurício Grecco), sua mãe (Carmen Frenzel) e seu avô maluco ( Marcos Archer). Mas é nas viagens do rapaz pelas terras orientais que a peça alcança seus melhores momentos.

Todo o excelente elenco, completado por Isa Vianna e Vanessa Balalai, se entrega ao texto com garra. Durante o espetáculo, os atores se multiplicam em vários personagens diante do público, bastando a troca de um adereço aqui, um figurino ali. Neste quesito, aliás, os figurinos simples e sempre criativos de Ney madeira fazem um casamento perfeito com os ótimos adereços bolados por Mara Ornellas, fundamentais para a caracterização de todos os tipos esquisitos que o aventureiro Marco encontra pelo caminho.

Também a econômica iluminação de Djalma Amaral, com a criação de ótimos efeitos visuais, é outro destaque deste espetáculo inteligente. E as francas risadas da plateia – como na cena das dançarinas – e as palmas que interrompem a peça em alguns momentos, mostram que direção e elenco conseguiram uma sintonia fina e rara com o público.