Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 29.04.1978

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Moça Maria volta: fria e correta

Parabéns à Escola Isa Prates pela decisão de remontar A Inacreditável Aventura na Selva de Moça Maria, um dos melhores espetáculos de 1976 e que quase não foi visto pelos cariocas devido ao pouquíssimo tempo em que ficou em cartaz. A montagem é praticamente a mesma, com a diretora Maria Luisa Prates apoiando-se fortemente na expressiva carga visual trazida ao público pelos cenários e figurinos de Luiz Carlos Figueiredo, pela iluminação do onipresente Jorginho de Carvalho e pela música de José Mauro Soares. Entretanto, dois anos depois, sinto que o espetáculo não tem a mesma comunicação do original. O que havia de envolvente, de deslumbrante e algumas vezes de brilhante, em 1976, transformou-se em frio, distante e simplesmente correto. É uma encenação que corre muito certinha. Mas que não atinge o mesmo clima tocante da anterior.

O texto do norte-americano Jack Stokes, adaptado por Maria Luisa Prates, mantém suas qualidades básicas. É inteligente ao mostrar, para a criança, que não há verdades absolutas; ao mostrar que dentro de cada um de nós existe o corajoso e o covarde, o inteligente e o ignorante, o agressivo e o terno. Em síntese: que dentro de nós existe a parte boa e a parte má, que não existe o personagem totalmente bom (as fadas) e nem o totalmente mau (as bruxas). No caso de A Inacreditável Aventura na Selva de Moça Maria, o autor utiliza diretamente as bruxas que, reagindo às tradições (colocadas no personagem Takaya) conseguem frustrar os planos negativos de sua chefe. A discutir, apenas, uma colocação do autor que me parece muito infeliz: “Só as meninas podem morrer assim, vendo seus segredos revelados”. É uma posição tomada pelo autor que, inclusive, contradiz toda a sua demonstração de que o ser humano é algo cheio de complexidades. Jack Stokes nos mostra que bem e mal são elementos que se misturam; mas, ao mesmo tempo, deixa claro que há qualidades “masculinas” e qualidades “femininas” e que o masculino só se encontra no homem e que o feminino só se encontra na mulher. Ao ver seus segredos revelados, um homem não morreria nunca (porque é “forte”!), mas a mulher morreria (porque é “frágil”!). Não sei como Maria Luísa e seu elenco de jovens deixaram passar uma ideia velha e preconceituosa como essa.

No Colégio Pernalonga, (Rua Francisco Otaviano 131), A Inacreditável Aventura na Selva de Moça Maria é um bom programa para as crianças. Uma história interessante contada num espetáculo de acabamento profissional (com exceção do elenco amador, formado por alunos da Escola).