Matéria publicada no SBAT Boletim nº 262 – Pag. 27
Sem Identificação – Rio de Janeiro – Jul/Ago 1951

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A Importância do Teatro para Crianças e Adolescentes

O Sr. Júlio Gouvêa, delegado do “Teatro Escola de São Paulo” e da “Sociedade Pau­lista de Teatro” e representante da “American Educational Theatre Association”, da Califórnia, apresentou ao Primeiro Congresso de Teatro uma tese muito interessante sobre “Teatro para crianças e adolescentes”.

Diz, por exemplo, que educar o público adulto para o teatro e atrair seu interesse é tarefa difícil, especialmente quando os adultos já enraizaram preconceitos e impressões falsas sobre tudo que se refere a teatro. Por esta razão, a tentativa de educar o público adulto não poderá, por si só,resolver o problema do público teatral, especialmente se considerarmos que tal trabalho não será educação, mas. sim reeducação, e que, além disso, haverá sempre novas gerações de adultos já imbuídas dos mesmos preconceitos e do mesmo desinteresse. Se essa reeducação é difícil, lenta, dispendiosa e de resultados duvidosos, teremos de evitar na criança a formação de concepções falsas, desenvolver seu gosto pelo teatro, incutir-lhe o respeito que o teatro exige, criar o hábito do teatro, elevar, portanto, o nível artístico das novas gerações. Sua tese apresenta uma série de sugestões utilíssimas, entre as quais aquela de que só aos adultos compete realizar o teatro para crianças, pois que só os atores adultos serão capazes de apresentar espetáculos de boa qualidade artística e pedagógica. E só eles serão capazes de estabelecer as necessárias relações entre o público e a plateia, orientando e controlando as reações do público infantil. Entretanto – acrescenta – o teatro representado por crianças e adolescente deve ser igualmente estimulado, não só porque também constitui um poderoso elemento de formação de hábito de teatro, como contribui, como precioso fator educativo, para a personalidade social, graças ao espírito de cooperação que caracteriza o trabalho em equipe indispensável ao Teatro.

É essa tese, sem dúvida alguma das mais brilhantes e das mais bem feitas, apresentadas ao Congresso, orientando, com seus esclarecimentos, os interessados no assunto, e repetindo aquela famosa frase de Stanilawsky, que, quando lhe perguntaram como devia ser o teatro para crianças logo respondeu: “Igual ao dos adultos, só que melhor”.

Como realizar o Teatro para Crianças?

O Sr. Júlio Gouvêa é de opinião, baseado em experiências realizadas especialmente na América do Norte, que “o teatro para crianças e adolescentes, representado por adultos, pode ser realizado por amadores, semiprofissionais ou profissionais. Em cada caso, porém, o problema econômico estará presente. No caso de amadores e semiprofissionais, aquilo que se poupa não pagando os atores­ perde-se em despesas adicionais, decorrentes da falta de experiência, e perde-se também em virtude das dificuldades em casas de espetáculo e consequente falta de um público firme. No caso dos profissionais, aquilo que se ganha em teatro fixo, público firme, publicidade garantida, conhecimento do “metier” perde-se no pagamento dos atores. E em ambos os casos, faltarão sempre os elementos para orientar corretamente os espetáculos do ponto de vista psicológico e pedagógico, elementos estes que somente uma organização estatal ou uma Universidade podem fornecer, como já ficou sobejamente demonstrado nos Estados”. Unidos, nos Soviets e na França. Mas, por outro lado, esse teatro, ligado exclusivamente a uma organização estatal, correrá o risco de ficar burocratizado e estagnado.

Divisão de Público de Acordo dom as Idades

Ponto básico do teatro para crianças – debate o Sr. Júlio Gouvêa – é a necessidade de separar o público de acordo com as idades. O desenvolvimento .mental, emocional e intelectual, é tão diferente nas diversas idades, que apresentar uma peça para um público heterogêneo, formação de crianças de 5 ou 4 anos; ao lado de crianças com 10, 11, 12, é simplesmente absurdo, e tão obviamente errado, que dispensa qualquer comentário – especialmente se nos lembrarmos de que até para frequentar a escola primária ou o ginásio há limites de idade, de acordo com a lei. Aliás a maneira mais lógica e mais viável de separar por idades o público dos espetáculos é em função do ciclo escolar, pré-escolar, jardim de infância, escola primaria, admissão e ginásio, constituindo este último o público do “Teatro de Adolescentes”.