A terceira edição do Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau foi uma oportunidade preciosa para uma amostragem – mesmo que parcial – da produção teatral para crianças e adolescentes no país. Além de ter sido uma ocasião extremamente propícia para o encontro, a troca de informações e a confraternização de profissionais e amadores de reconhecido talento.
No entanto, se quisermos ser um pouco mais rigorosos, percebemos que, de uma forma ou de outra, todos os festivais acabam sempre contribuindo para o incremento e o aprimoramento da produção.
O que poderia ser considerada uma peculiaridade do Festival de Blumenau? Em primeiro lugar ficou patente que, o fato do Festival estar sendo realizado com regularidade, possibilitou o amadurecimento e a ampliação do movimento de teatro em Blumenau e, por extensão no Estado de Santa Catarina.
A quantidade e a diversidade dos espetáculos deste Estado que foram consagrados pelo público só vem reforçar esta impressão.
A agilidade e eficiência que caracterizam as ações da organização do Festival, de alguma forma também devem ser frutos da prática regular nestes três anos.
O apoio maciço da população local e das instituições de ensino deve ser também demonstrativo da credibilidade do Festival junto aos cidadãos.
Estamos cada vez mais acostumados a ver em nosso país iniciativas na área cultural atingirem grandes cifras de espectadores, grande apoio da mídia, e se desvanecerem com a mesma facilidade com que foram idealizadas e realizadas. São os famosos eventos, que têm sua vitalidade circunscrita ao período em que ocorrem e que, por sua própria concepção, deixam poucos vestígios.
Não é o caso do Festival de Teatro Infantil de Blumenau. A persistência de seus organizadores não se atenuou diante das dificuldades que, todos nós sabemos, são imensas no Brasil de hoje. Prefiro acreditar que esta força não esmorece porque está respaldada na crença de que só a constância será capaz de gerar frutos palpáveis. E a coragem de saber que esses frutos só serão visíveis a médio ou em longo prazo, o que muitas vezes não satisfaz aos interesses eminentemente mercadológicos.
Por isso tudo, independente da qualidade dos trabalhos apresentados, das possibilidades de aprimoramento do projeto serem inúmeras, não se pode deixar de reconhecer sua importância no cenário nacional.
E porque tem já tantos pontos a seu favor e tão numerosas conquistas visíveis é que o Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau pode se permitir um olhar mais rigoroso e cuidadoso em direção ao seu futuro, por exemplo:
– fazer com que a cidade como um todo reconheça a urgência das obras de aprimoramento da acústica e dos recursos técnicos das salas de espetáculo do Teatro Carlos Gomes.
– aprofundar a reflexão sobre os critérios de concepção, realização e desenvolvimento de Oficinas, Cursos, Mesas Redondas, etc. durante o Festival.
– ampliar a divulgação do Festival para que uma parcela mais ampla de criadores e realizadores se inscreva, contribuindo assim para um possível enriquecimento da amostragem e das discussões.
– dedicar um carinho especial ao fomento, aprimorando, discussão e intercâmbio na área da dramaturgia.
Mas nada disso será possível sem que, por trás de tudo, não esteja a certeza de que a continuidade é um dos fatores primordiais para o aperfeiçoamento e para o vislumbre de uma produção artística mais interessante e instigante para o público. E para a ampliação e melhoria da formação de artistas e técnicos neste país.
Francisco (Chico) Medeiros
Diretor Teatral e professor de interpretação na PUC – São Paulo
Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 3º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (1999)