Crítica Publicada no Jornal O Globo
Por Rita Kauffman – Rio de Janeiro – 05.04.1985
Magia, Nostalgia e Realidade
Na área do teatro infantil, em que os empreendimentos aumentam ano a ano (em 1984 foram apresentados 103 espetáculos – menos de 20% podem ser classificados como bons – contra 85 no ano anterior) embora nem sempre em qualidade, é um prazer registrar que o início da temporada de 85 traz uma sequência de três estreias muito boas, de estilos diferentes, marcadas por um traço comum: a direção a cargo de três jovens talentos em Sapomorfose, Antonio Grassi, do Grupo Manhas de Cabaré; Beto e Teca, Renato Icarahy, do grupo Tapa; e A Idade do Sonho, Vicente Maiolino, do Teatro Feliz Meu Bem.
A Idade do Sonho, história de Tonio Carvalho, que está sendo apresentada no Teatro Cacilda Becker e tem ingredientes de fantasia (tônica de Sapomorfose, no Teatro Gláucio Gill) e de realismo (marca de Beto e Teca no Planetário). Resultado de um trabalho de 10 meses é um espetáculo mágico, em que ciganos e bonecos, atores e plateia vivem um clima de sonho e nostalgia, num tempo em que a fantasia circulava de maneira diferente pela cabeça dos jovens. A realização de Maiolino, sem fazer trocadilho com o nome do grupo, é muito feliz: o tributo a Chaplin, ao cinema mudo, às companhias que mambembavam pelo interior e pelos subúrbios, é muito bem desenvolvido. Os cenários e figurinos de Maiolino, sua especialidade, são adequados e se tornam extremamente interessantes quando se transformam em ambientação cigana; os bonecos, a caixinha de música e o caldeirão são elementos que realçam o trabalho. Cada um dos numerosos elementos em cena tem razão de ser, nada é gratuito. A música ao vivo se encarrega, juntamente com a iluminação, de favorecer o envolvimento da plateia na trama.
Apesar de contar uma história rica em detalhes, a direção firme de Maiolino não deixa que nada se perca. Não ficam dúvidas nem lacunas de entendimento para a plateia, o que já aconteceu em realizações anteriores do Teatro Feliz Meu Bem, como As Sete Quedas do Meu Pobre Coração e O Mistério do Boi Surubim. O trabalho dos atores é bastante homogêneo, cheio de emoção e, tanto físico quanto psicologicamente, a distribuição dos papeis foi adequada, ressaltando-se o duplo trabalho de Anita Terrana, como Camélia e Elvira. Um voto de louvor, também, para a bela música de Raquel Durães.