Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Flora Sussekind – Rio de Janeiro – 22.03.1985

Barra

Jovem Shakespeare

Uma adaptação, sem dúvida ousada, a do Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare, é o mais novo trabalho do Grupo Teatro Feliz Meu Bem, A Idade do Sonho, parecem mostrar que duas das trilhas mais férteis do teatro infantil nos últimos anos talvez continuem a ser caminho obrigatório nessa temporada de 1985.

A adaptação de clássicos, que no ano passado deu origem à encenação para crianças do Círculo de Giz, de Brecht, transformado no Dito e Feito de Marília Gama Monteiro, e de As Alegres Comadres de Windsor, convertidas em Bom-Dia, Comadre, por Paulo Afonso Lima, e à teatralização do Pinóquio, folhetim de Collodi, pelo Grupo Tapa, continua este ano com o difícil trabalho a que se propuseram Moacir Góes e Lenita Plocynski: o de adaptar para público infantil um dos textos mais bonitos de Shakespeare, o Sonho de uma Noite de Verão, que estreia amanhã no Teatro Glauce Rocha. “Está completamente adaptado”, afirma corajosamente Moacir Góes. “Contamos a história a partir dos reis dos elfos, Titânia e Oberon. A maior dificuldade foi manter a linguagem lúdica do Shakespeare para crianças. Mas seguimos fielmente o texto. Nossa maior preocupação foi manter o que é clássico na peça de Shakespeare. Não procuramos transportá-la para os dias de hoje. E nem infantilizá-la no pior sentido do termo”.

A Idade do Sonho, em temporada no Teatro Cacilda Becker, aponta noutra direção. Numa trilha já percorrida pelos grupos Ventoforte, de Ilo Krugli, e Hombu, e pelo próprio Teatro Feliz Meu Bem e que envolve a criação de uma dramaturgia em diálogo com as formas de expressão do povo, com cenários sempre móveis e às vezes inexistentes e com a “magia”, marca registrada das peças de Tonio Carvalho, onde se misturam via de regra festejos populares, lembranças e fantasias nostálgicas. Como em A Idade do Sonho que, segundo o grupo, “pretende resgatar o enfeitiçamento que tinham as caravanas de ciganos e o riso que traziam os circos de antigamente com seus dramas e comédias”.