A autora, diretora e atriz Bia Bedran
Foto de Paulo Rodrigues

Crítica publicada no Jornal do Brasil Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 01.08.1992

 

Barra

Aulas cheias de poesia

O espectador menos atento que se dirigir ao Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil para assistir a mais um show musical da cantora Bia Bedran pode ter a grata surpresa de encontrar por lá a atriz Bia Bedran. É um espetáculo teatral, no seu mais amplo significado, onde cada elemento da encenação – canto, dança, luz, cenário e figurino – é por si só um personagem. Bia, que percorre o circuito paralelo dos ídolos da garotada, sem nenhum grande marketing que estampe sua imagem em cadernos, sandálias e pochetezinhas, também abriu mão de identificar seu público como baixinhos, amiguinhos, pequerruchos e outros diminutivos. São apenas crianças, e são estas que lotam a plateia.

A peça Histórias da Mãe Natureza, com texto e direção da atriz, entremeada de pequenos contos de Ana Maria Machado, é uma bem-sucedida mistura de teatro e música, dividida em quatro temas, terra, fogo, água e ar. Para conter suas história, Bia criou um delicioso personagem, a professora Lenora, que passeia pelos temas – efeito estufa, chuva ácida, buraco na camada de ozônio – com muito humor e sem didatismo exagerado. Se a professora se ocupa das aulas, a poesia cantada fica mesmo com Bia Bedran e seu especial estilo de interpretá-las. Ela cria por vezes outros personagens, que podem ser um atrapalhado caubói do Velho Oeste ou uma borboleta recém-saída do casulo, quando não se coloca simplesmente como Bia Bedran , tirando partido de sua belíssima presença cênica.

Mas o espetáculo não é só Bia. Os cenários, figurinos e adereços de João Gomes Rego têm a criatividade e a leveza próprias da natureza que está sendo representada. Os arranjos musicais de Sidney Matos e as interferências da percussão de Paulo Menezes se manifestam como um forte contraponto à encenação. Com tanta movimentação num espetáculo solo, era de se esperar que existissem inevitáveis lacunas, mas, nos breves momentos em que a atriz não esta em cena, deixa no palco a luz, um personagem a parte, sob o comando de Djalma Amaral. Ele não se limita a criar apenas belos coloridos. Muito mais do que isso, seus efeitos revelam com maestria todas as passagens exigidas pelo texto. Assim, a fina chuva se transforma em cachoeira, o fogo incendeia o palco e a terra toda se ilumina. Pura magia.

Histórias da Mãe Natureza é um espetáculo de alto nível profissional, que se trata com todo respeito o público. Este só lembra que está num teatro quando as luzes se acendem. O aplauso é inevitável.

Cotação 4 estrelas (Excelente)