Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 06.10.1975

Barra

A História do Espantalho

A Historia do Espantalho, de Sérgio Roberto, com direção de Roberto de Brito, é um espetáculo que deixa bastante claro o reduzido nível de informação teatral de seus criadores. O diretor pretende explorar a forma de musical, mas tal intenção encontra três obstáculos intransponíveis: um elenco que não canta bem, o uso do play-back e uma coreografia sem um mínimo de criatividade. E, apesar das partes musicais serem fracas, o diretor Roberto de Brito – talvez acreditando nelas – insiste, obtendo resultado pouco felizes:

– “Será que as crianças aprenderam à música? Não? Então, vamos cantar de novo”. A direção não cria climas, envolvimento, é tudo muito frio: a luz entra e sai sem motivo algum; e há ações contraditórias (Betinha sai de cena para se incrementar como hippie e, quando retorna, a única coisa que fez foi pegar uma bolsa comum).

O texto de Sérgio Roberto também se ressente de teatralidade. E sua lógica é um pouco capenga. Por exemplo: a Bruxa pergunta para o público se deve solicitar o espantalho para bater um papinho. Ora, em primeiro lugar, apesar de o espantalho estar preso, os dois já batiam papo há muito tempo; e, além disso, antes de a bruxa entrar em cena, o espantalho estava bem solto. A peça, que tem falas como “Fiquei deveras cansativo”, procura ser educativa e, é aí, que se perde ainda mais. A bruxa só assusta “crianças que fazem pipi na cama ou que fazem malcriações para o papai e a mamãe”. E há mensagens colocadas de forma artisticamente muito pobre como a sequência desse pensamento sobre a ordem: O Soldadinho é um homem muito bom / O Soldado precisa manter a ordem / Sem ordem não há progresso. Ou ainda, uma frase que se caracteriza pela sua profunda originalidade: “Todo mundo tem que estudar”.

A História do Espantalho, no Teatro Miguel Lemos, é uma encenação muito pobre e só cria um pouco de interesse pela boa comunicabilidade de Bernadete Tostes (“Betinha”).