História Encontra ponto: afiada trupe de manipuladores no palco.
Foto Valéria Rosa

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 03.06.1995

 

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Peça quase no ponto

Quem se interesse pelas aflições de um autor em crise de imaginação? Nos dias atuais, as opções não são muitas, além daqueles que o fazem profissionalmente, como os terapeutas, ou de alguns poucos amigos verdadeiros que por sorte se possa ter. História Encontra Ponto, texto de Maria Luiza Lacerda, conta a história de um escritor sem inspiração que passa longo tempo dialogando com sua máquina de escrever, ou com sua única personagem, Maricota, até que resolve colocar um ponto – que não é final – em cada uma de suas frases e deixar que a inspiração lhe venha no dia seguinte. Na sua ausência, porém, a personagem e o ponto ganham vida e vão atrás de suas próprias aventuras.

Escrito com a intenção de revelar ao público o outro lado de uma atividade solitária, a do autor, o texto de Maria Luiza apresenta, no prólogo, diálogos infindáveis sobre o mesmo tema. Além das repetidas cenas em que o escritor se lamenta da falta de ideias, pedindo à plateia sugestões que não vai aceitar, evidenciando a inutilidade do apelo, o diálogo inicial de Maricota com o ponto faz alusão a uma atividade que, hoje em dia, é totalmente desconhecida pela plateia. Maricota, que está na fossa, sabendo que o ponto não é final nem parágrafo, imagina que lê seja um ponto de teatro – o profissional que cantava o texto para os atores, função extinta há pelo menos 40 anos.

Se a primeira parte da encenação é lenta, a segunda, mesmo sendo um pouco confusa, decola suavemente no gosto da plateia. Maricota e seu companheiro viajam no vendaval/imaginação, como a menina Dorothy, de O Mágico de Oz, e chegam a uma espécie de túnel de Alice no País das Maravilhas. O recurso, mesmo muito conhecido, mostra-se eficiente nas mãos do diretor e bonequeiro Fernando Santana e do seu afiado elenco de atores manipuladores, composto por Roberto Jerônimo, Cristiana Lacerda, Daniela D’Andrea e Valéria Loreto.

Santana, mesmo lutando com saídas de cena bloqueadas, constrói um espetáculo agradável ao público, tirando partido das cenas de maior ação. Contando com excelentes manipuladores, o diretor mistura o oculto e o explícito do teatro de bonecos com sensível habilidade. Depois de encobrir com recursos cenográficos e de luz, na maior parte da encenação, a manipulação e a voz de Maricota, o diretor, ao final, exibe a atriz falando pela personagem que manipula, sem que a revelação do truque provoque a quebra da magia.

Cotação: 2 estrelas (Bom)