A História dos Objetos Falantes: Muita alegria.

Crítica publicada no jornal O Estado de São Paulo
Por Rui Fontana Lopes – São Paulo – 30.10.1982

 


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Trabalho interessante de um grupo que promete

A História dos Objetos Falantes, espetáculo musical para crianças e jovens em cartaz no Teatro Ruth Escobar, marca o início das atividades de um novo grupo de teatro infanto-juvenil em São Paulo, o Grupo Zambelê. Formada por diversas pessoas com maior ou menor experiência em teatro, essa nova equipe montou um espetáculo alegre, dinâmico e divertido. A julgar pelos resultados alcançados neste primeiro trabalho em conjunto, o Grupo Zambelê poderá dar ao público infanto-juvenil outros e ainda mais interessantes espetáculos.

O texto de Vitor-Guarany e Marcos Arthur, a despeito de certa fragilidade na exposição e na condução dos conflitos e da ação, consegue sustentar-se em cena. A ideia de flagar objetos inanimados num momento secreto de animação, se não é nova é bastante interessante e engraçada. No meio da noite, a menina Camila descobre que os objetos da cozinha de sua casa – fogão, geladeira, pratos, cadeiras, mesa, relógio e uma simpática vassoura – têm vida e debatem com muita animação a importância e o papel de cada um na vida daquela família. A discórdia é grande: cada um desses objetos se julga melhor e mais importante do que os outros. Através do bom senso e da ingenuidade de Camila as coisas acabam em seu devido lugar: ninguém é melhor que ninguém e cada objeto tem seu próprio valor.

Sendo uma primeira experiência em dramaturgia infanto-juvenil, é natural que o texto apresente algumas deficiências. Em seu próximo trabalho, todavia, os autores certamente saberão explorar de modo mais completo as diversas possibilidades dramáticas e de conteúdo que o bom teatro infanto-juvenil requer. Competência, talento e intenções de fazer um trabalho sério e dedicado são qualidades evidentes dessa primeira experiência, permitindo esperar de Vitor-Guarany e Marcos Arthur trabalhos mais aprimorados no futuro.

A direção firme e dinâmica de Kaká de Souza, a elaborada direção musical de Marcos Arthur (que infelizmente utiliza música gravada), os bonitos e funcionais cenários e figurinos de Luís Rosa e Tieko, e as belas canções assinadas pelos autores do texto, integram-se de modo harmonioso. A História dos Objetos Falantes é um espetáculo alegre e interessante, eficaz sobretudo junto às crianças de menor idade.

O elenco, a despeito da heterogeneidade e de alguns problemas vocais, desincumbe-se de sua tarefa de modo bastante adequado: seu entusiasmo e energia compensam bem alguns problemas de desempenho, que só a experiência em cena e a familiaridade com o palco podem resolver. No mais, uma produção caprichada e cuidadosa (em todos os aspectos), revelando o profissionalismo e a vontade de acertar do Grupo Zambelê.

Legenda: A História dos Objetos Falantes: Muita alegria.