Critica publicada no Jornal da Tarde
Por Clóvis Garcia – São Paulo – 16.10.1987
Sucata e arte, num espetáculo que encanta crianças e adultos
A casa do Ventoforte, instalada inicialmente na rua Tabapuã e agora em sede própria, em terreno cedido, na rua Brigadeiro Haroldo Veloso, 150, tornou-se um centro cultural importante, com cineclube, realizações de seminários, conferências, oficinas (inclusive de artes plásticas) e, naturalmente, teatro, com dois espaços já construídos e um terceiro em construção, além de outras áreas. Com atividades dirigidas a todas as idades, sua maior atenção é dada à criança, centro de interesse desde a sua fundação em São Paulo, em 1979. Assim, é natural a sua participação importante no Projeto Criança, promoção da Secretaria Estadual de Cultura que se espalha pela Casa de Cultura Mazzaropi, Oficinas Culturais Três Rios, Museu da Casa Brasileira, alguns museus e, especialmente, na Casa do Ventoforte, aqui com espetáculos, conferências e o seminário De Quem é a Criança?, às segundas feiras.
No campo dos espetáculos teatrais, estão sendo apresentados, nos mais diversos horários, as grandes encenações do Teatro Ventoforte: a poética História do Barquinho, teatro de mãos, a lúdica As Quatro Chaves, a folclórica Labirinto de Januário, todas já comentadas. Mas a montagem mais importante, que deverá ficar em cartaz além do Projeto Criança, é um clássico e um marco do teatro infantil brasileiro, a famosa História de Lenços e Ventos, que desde 1974, quando estreou, vem sendo reapresentada sempre com grande sucesso. Não podemos fugir do lugar-comum: quem não viu não deve perder, quem já viu aproveite para ver de novo. O espetáculo está na Casa do Ventoforte, aos sábados e domingos, às 16h.
Com uma hora e meia de duração, talvez um pouco longo para crianças pequenas, a criação de Ilo Krugli, a alma do Ventoforte, é um espetáculo completo: tem uma história de amor e de aventura, tem o mau e o bom, tem bonecos de vara, de luvas, de sobra, tem música e dança, tem criatividade e diversão, tem poesia e força visual. Começa com uma mala de bonecos, com a história de Manuel e Manuela, do Eu e Você, com o incidente do poço. Depois que os bonecos se trancam na mala, recusando-se a trabalhar, vem a história de Azulzinha, uma “lencinha” que se deixa levar pelo terrível Vento da Madrugada e acaba prisioneira do Rei Metal Mau, no seu castelo, sendo salva pelo Papel, uma folha de jornal que, destruída pelo fogo, é reconstruída como boneco de papel (agora numa cena mais espontânea), mas tem também o guarda-chuva, o telefone, e, especialmente, o dragão feito de lenços, um dos momentos de maior beleza e criatividade. Os cenários e figurinos de Ilo Krugli, no seu estilo sucata, a música de Caíque Botkay e Beto Coimbra, os bonecos e máscaras de Luis Laranjeiras, a preparação corporal de Paulo Cesar Brito, a luz de Roberto Mello, a música e canto ao vivo, o elenco do Ventoforte, fazem de Histórias… um espetáculo imperdível.