A Guerrinha de Tróia: bom elenco

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 12.09.1992

 

 

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Um presente que não é de grego

Corre uma lenda no meio teatral que os diretores, quando querem se descartar dos textos apresentados pelos autores, têm sempre duas respostas de plantão: “É ótimo, mas não tem conflito” e/ou “É fantástico, mas é inexequível”.

A Guerrinha de Tróia, uma adaptação livre da Ilíada, de Homero, em cartaz no Teatro Nelson Rodrigues, poderia facilmente se encaixar na segunda resposta, não fosse a capacidade de seus autores – Alain Pierre, Cássia Forreaux e Neuza Caribe – em transformar essa odisseia num divertimento musical. De enredo bastante movimentado, a peça conta a história de Helena, mulher do rei Menelau, de Esparta, raptada pelo príncipe troiano Paris, com a ajuda de Vênus. Para que a bela retorne ao lar, gregos e troianos, apoiados pelos deuses do Olimpo, se envolvem numa guerra que dura dez anos. Em sua estreia como diretor teatral, Ernesto Piccolo não poderia ter sido mais feliz. Sob seu comendo estão em cena 20 atores afiadíssimos que cantam, dançam e representam, demonstrando nitidamente ao público o prazer de estar em cena.

Com cenários faraônicos, concebidos por Regina Medrado com muito bom gosto e de fácil movimentação, o elenco se desloca, do Olimpo para o palácio do rei Menelau, que rapidamente se transforma num campo de batalha, onde não falta nem o cavalo recheado de guerreiros. As músicas de Alain Pierre receberam de Alfredo Dias Gomes os arranjos mais inusitados. Assim, pode-se ver Helena comandando um movimentado programa de auditório, enquanto Ulisses, com um cantinho e violão, interpreta bossa nova no mais puro estilo João Gilberto. Ficando o rock para Aquiles e Paris. Acompanhando a versatilidade da trilha sonora, as coreografias de Daniela Visco brincam com o estilo dos grandes musicais como West Side Story e Grease, ao mesmo tempo em que utiliza o rebolado das escolas de samba na avenida.

Com tanta criatividade no apoio técnico, já era de se esperar que todo o elenco estivesse bem. Neuzinha Caribe faz a sua Helena de Tróia, mesclando a sedução da personagem com seu jeito natural de menina obtendo um resultado encantador. Jansen Barreto compõe seu Paris cheio de engraçadíssimos tiques de galã roqueiro. Ainda se destacam Cássia Forreaux (Helena), Cristiana Maia (Vênus), Cláudio Gardim (Menelau), Roberto Alvim (Ulisses), e Daniel Lobo (Ajáx).

A Guerrinha de Tróia é um espetáculo feito com prazer e entregue ao público como um presente, não de grego, naturalmente.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)