Crítica publicada no Jornal da Tarde
Por Clóvis Garcia – São Paulo – 20.05.1989

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Ópera-Pop para público infantil: brilhante e dinâmica

“Em épocas difíceis é preciso ousar mais”, é a frase com que o Núcleo Zambelê abre o programa de A Ópera das Formigas, libreto de Sílvio Ferreira Leite e música de Marcos Arthur , direção de Jamil Dias, que está sendo apresentado no Teatro Caetano de Campos.

Realmente é uma ousadia encenar uma ópera para crianças, mesmo que se trate de uma ópera-pop. Claro que ainda não chegamos ao nível do teatro de infantil russo, que conta com um teatro moderno, de mais de 2.000 lugares, somente para a apresentação de óperas e balés para o público infantil e onde os dançarinos do Bolshoi e os cantores da Ópera de Moscou costumam atuar, ou ao caso de Lyon, onde vimos um espetáculo em circo, montado cada fim de semana num bairro, com os cantores, músicos e regente do Teatro de Ópera. Mas já é um fato de grande importância que um grupo de teatro se arrisque a montar uma ópera para o nosso público infantil, que nem está habituado ao teatro declamado, mais acessível.

A história é bastante simples, com conotações sociais, em que aparecem os temas da liberdade, da organização do trabalho, do direito ao lazer. Num formigueiro, a rainha, usufruindo de todas as regalias, obriga o povo a trabalhar, mesmo quando não, sem direito a descanso. A esperança está no mito de um “formigo” aventureiro, que prepara um plano para afastar a rainha e seu conselheiro, vem configurar o salvador mítico, sem que fique claro se se trata mesmo do messias esperado. Assim, também a figura do herói fica desmistificada: qualquer um pode assumir e atuar na busca da própria libertação.

Com um libreto todo em versos, com convêm a uma ópera, a música de Marcos Arthur (também diretor musical), com arranjos de Vitor Gabriel, valoriza o texto. Surpreendentemente, o público infantil (apesar da péssima acústica do Teatro Caetano de Campos) acompanha bem o desenvolvimento da ação dramática, manifestando-se nos momentos certos. O espetáculo é propositadamente curto, para não cansar as crianças. A direção de Jamil Dias, premiado diretor de teatro para adultos, formado pela ECA, e com experiência em direção de óperas, obtém uma montagem dinâmica, brilhante, em que a comicidade faz contraponto à música. A cenografia formalista de Marco Antônio Lima valorizada pela iluminação do diretor, os figurinos do cenógrafo, integrados, portanto, e um elenco que sabe cantar, que dança (na imaginosa coreografia de Analívia Cordeiro), onde se destacam Eduardo Silva e Lizette Negreiros, todos elementos se unem para um excelente espetáculo musical.

Serviço

 A Ópera das Formigas, de Sílvio Ferreira Leite (libreto) e Marcos Arthur (música). Direção Jamil Dias, Cenário e figurinos: Marco Antonio Lima,  Coreografia: Analívia Cordeiro. Com Eduardo Silva, Lizette Negreiros, Aldo Avilez, Antônio Miranda, Cibele Troyano, Cleide Queiroz, Edgard Camos, Evinha Sampaio, Fernando Petelinkar, Luiz Ferrari, Márica Ruzzardi e Valência Santos.

Teatro Caetano de Campos (Praça da República, 53, entrada por trás da Av. São Luís – Fone 533.0202
Sábados e domingos às16 horas. NCZ$ 3,00