Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 12.08.1981

Barra

‘A turma do circo’, mostra criação alegre, mas pobre

Um novo e simpático grupo inaugura, para a plateia carioca, um novo e simpático local: um espaço ao ar livre no Instituto dos Arquitetos do Brasil, Rua Conde de Irajá, 122, Botafogo. O grupo, denominado “A turma do circo”, entrou em cartaz com uma criação coletiva chamada Gran Circo Kabrun. O espetáculo é alegres, divertidos, soltos, coloridos, mas acaba, apesar de todas essas qualidades, como uma encenação muito pobre, muito esvaziada; e, quando termina, ouve-se a criança perguntando, surpresa: “Ué! Já acabou?”. Por que o espetáculo Gran Circo Kabrun fica pobre e esvaziado? O que faltou ao grupo foi o senso de medida necessária para transportar o espetáculo de um espaço artístico-social para outro. Gran Circo Kabrun foi criado, originalmente, para ser uma atração a mais em festas de aniversário de crianças. E, dentro desse ponto de vista. “A turma do circo” alcança plenamente seus objetivos. Numa festa em que já existem inúmeros outros focos de interesse, surge mais um; um grupo de atores, fantasiados de artistas de circo, alegres, simpáticos, coloridos e que apresentam, num curto espaço de tempo, uma série de brincadeiras para divertir as crianças. Entretanto, ao entrar em cartaz para uma plateia que paga seu ingresso. “A turma do circo” deixou de perceber algumas coisas importantes: que, na festa, ser curto era uma qualidade; mas, no pátio do Instituto dos Arquitetos do Brasil, isto se transforma no mais grave defeito. Na cabeça dos espectadores de teatro já existe um padrão de tempo mínimo para uma peça: menos que aquilo, o público começa a se sentir meio roubado. Outro aspecto não percebido pelo pessoal de “A turma do circo”; o clima que as crianças vivem numa festa é muito diferente do clima que vivem um teatro (mesmo ao ar livre). Na festa, a criança está agitada, correndo pra lá e pra cá, brincando, gritando, brigando. Então, a “chegada do circo” é simplesmente uma brincadeira a mais e isto permite que os quadros da peça sejam um tanto esquemáticos, tanto na concepção como na realização. Já num teatro, a postura da criança é diferente; o nível de exigência, maior. Aí as cenas surgem pobres, os números mostram pouca criatividade. Os figurinos são interessantes; já existe, então, um bom apelo visual; há mágicas, um elemento de comunicação infalível com a criança; há o circo, que sempre deslumbra; há um elenco firme, muito seguro; há um clima solto, relaxado. Enfim, há toda uma base positiva para que os integrantes do Gran Circo Kabrun criem, a partir desta base, um verdadeiro espetáculo circense-teatral que consiga se sentir à vontade num teatro e não como um peixe fora d’água. E o atual Gran Circo Kabrun, como está, deve continuar sua carreira nas festas; para a comemoração de um aniversário, o espetáculo é, inclusive, bastante rico, bem acima da média.