Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Arthur Dapieve – Rio de Janeiro – 18.02.1987
Eis que Romeu e Julieta, de Shakespeare, foi livremente transplantada para Copacabana de nossos dias. Romeu virou Rodrigo,
Julieta virou Júlia e, mais uma vez, o dramaturgo inglês revirou-se sob sua lápide, lá na santa paz de Stratford-on-Avon. Adaptá-lo é comum e (parece) fácil. Mesmo porque sua imortal universalidade assim o permite.
Em Grafitti Coração, de Bernardo Horta e Marcos Milone, encenado às segundas e terças no Circo Despertar, na Gávea, os apaixonados são separados por pertencerem a turmas rivais- em vez das famílias do original. O drama da obra de Shakespeare foi diluído entre festas e brigas nos percalços adolescentes de Rodrigo e Júlia em busca do amor proibido. Tudo muito leve, claro.
Aliás, há aqui um endereço certo: o público infanto-juvenil – embora, diga-se de passagem,a peça esteja mais para infanto do que para juvenil. O alvo é meritório: essa faixa etária é virtualmente esquecida pela produção cultural – exceção feita ao cinema e a um ou outro conjunto de rock. Assim, Grafitti Coração bem pode agradar ao público a que se destina.
Nessa direção, a peça se defronta com a faca de dois gumes que é o picadeiro do circo. Se, por um lado, a ele se adapta bem o jogo de cena do diretor Bernardo Horta, por outro, as vozes pouco treinadas do jovem e esforçado elenco são dispersadas através da lona.
Dentre os atores, apesar de Daniel Herz e Paloma Riani encarnarem os pombinhos razoavelmente, quem se destaca são os que com bom rendimento cômico, vivem papeis secundários: Arildo Figueiredo (Bagana e o porteiro), Luiza Silveira (a babá) e Derinho de Carvalho (Baretta e o travesti). São eles que dão o tom de mais um espetáculo para ver com a cabeça leve.