Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 10.08.1996
Referencias quebram o ritmo
Gasparzinho, o da revista em quadrinhos, era um “fantasminha camarada”, tão popular entre crianças e adultos que acabou virando um hit na Jovem Guarda, cantado pelo Trio Esperança. Faziam parte da história Luiza, sua namorada, uma bruxinha que era boa, e o Trio Assombro, formado pelos tios do fantasminha, que viviam de assustar as pessoas. A versão que chegou ao cinema enganou todo mundo com seu ghost infantil, onde, entre outros sustos, Casper deixa de ressuscitar para dar vez a ouro personagem. De brinde, ganha uma dança com a mocinha.
Gasparzinho, o Musical, com texto e direção de Fábio Pilar e André Dias, em cartaz no Teatro Leblon, começa seguindo a história do filme, mas depois encontra caminho próprio,
com alguns acidentes de percurso. O texto irregular e cheio de referências nem sempre de bom gosto acaba dispersando a atenção da plateia, presa por um espetáculo que começa muito bem. Na cena inicial de grande impacto, fantasmas voam pelo palco, em perfeita sintonia de técnica teatral e iluminação. O que se segue a ouverture, no entanto, é um espetáculo de cenas cortadas por intervenções musicais, muito bem feitas e interpretadas, que supera com vantagem os diálogos de humor duvidoso, que chegam ao palco como se fizesse parte de brincadeiras muito particulares do elenco.
Numa casa abandonada vive Gasparzinho e seus dois tios em eterno conflito. Por lá aparece um estudioso de fenômenos sobrenaturais e sua filha. Para esquentar o vaudeville, entra em cena a jovem viúva do dono da mansão que quer transformar o lugar numa espécie de Disneyworld do susto. Em cenas estanques bem recortadas, a história tem final feliz para quase todos.
Mas se o enredo não é todo mau, o texto de alguns personagens – a dupla de fantasmas e o da viúva – é assustador. Entre outras referências, a vilã fala ao celular com Vera Loyola, como se esta fosse muito conhecida pela plateia infantil. Ainda no repertório do trio, alguns vocábulos do dialeto ioruba, popularizados e reinventado pela comunidade gay nos anos 70.
Ultrapassados esses entraves, a direção de Fábio Pilar é toda voltada para o espetáculo, onde consegue bons efeitos cênicos. Os figurinos de Marcelo Marques são funcionais e permitem grandes truques em cena.
No elenco, em que todos cantam muito bem, se destacam as atuações de Ana Borges, como anjo da guarda do bem, Isadora Medella, como anjo da guarda do mal, e a presença marcante de Silvio Ferrari, o fantasmólogo The Voice.
Gasparzinho, o Musical é um espetáculo de produção bem cuidada, que poderia acertar os excessos de referências em seu texto e decolar como merece.
Cotação: 2 estrelas (Bom)