Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 28.07.1975

Barra

Gasparzinho

Numa época em que são constantes os apelos para que as pessoas encarem a vida de uma maneira mais aberta, despreconceituosa e com maior disponibilidade, é de se lamentar que um grupo – jovem! – coloque em cena uma peça cuja mensagem (?) final é uma apologia de fechamentos, um incentivo ao medo. Neste instante em que os melhores espetáculos infantis em cartaz procuram estimular na criança uma posição de abertura para as experiências da vida, a peça Gasparzinho, o Fantasminha Camarada, de Sueli Poggio, termina com tal conceito, repleto de anacronismo: “Vamos voltar para a casa da vovó. Correr mundo é muito perigoso. A casa da vovó é muito mais segura”.

O texto carece de estrutura e se desenvolve na base do entra-e-sai dos personagens. Além disso, é incoerente (se estão ocorrendo roubos Maria não poderia dormir com tal despreocupação), cheio de ações arbitrárias (as duas meninas resolvem dormir só para que o Bruxo tenha condições de aprisioná-las) e utiliza recursos chavões, como o esconde-esconde e os segredos.

A direção – também de Sueli Poggio – caracteriza-se pela omissão. Não existe uma elaboração nem no nível das ideias nem em termos artesanais. A montagem corre solta, largada, com coreografias e cantos cheios de insegurança, sem qualquer brilho, com os atores trabalhando de modo dispersivo, aleatório.

O cenário é pobre de ideias e esteticamente inexpressivo. Os figurinos, pelo contraio, funcionam de modo eficaz, colaborando para ação, sendo bem coloridos e alegres.

As melhores interpretações são as de Sueli Poggio (Gasparzinho) e de Eliane Rocha (Maria): são trabalhos alegres, comunicativos, dinâmicos. Paulo Barcelos (Espantalho) e Hugo Mayer (Bruxo) têm uma atuação discreta, não enriquecendo, mas também não comprometendo a encenação. Entretanto, Julieta Borges, como Princesa, deixa muito a desejar: sua interpretação é insegura, sem expressividade. Ela não consegue dar veracidade às suas falas e ações; e seu canto é medroso, além de desafinado. Julieta Borges está totalmente deslocada no papel e este é mais um aspecto que mostra, de patente, a omissão da direção de Sueli Poggio.

Gasparzinho, o Fantasminha Camarada, no Teatro Teresa Raquel, está bem abaixo do nível de boa qualidade que o teatro infantil carioca apresenta no momento.

Recomendações:
Pluft, o Fantasminha, no Tablado – duas últimas apresentações; Da Metade do Caminho ao País do Último Círculo, no MAM; A Viagem de Barquinho, no SENAC; Maroquinhas Fru-Fru, no Opinião; Estória da Moça Preguiçosa, em Niterói; Criançando, no Casa Grande.