Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 16.05.2005
No meio do caminho
Galinhas, um musical de penas carece de proposta estética mais consistente
O espetáculo infantil é o primeiro contato da criança com o teatro. A qualidade dessa experiência pode aproximar ou afastar, em definitivo, este público em formação. Em cartaz na sede da Cia de Teatro Contemporâneo, em Botafogo, Galinhas, um musical de penas infelizmente não está entre os espetáculos que formem novos espectadores.
Em preleção que antecede a apresentação, o diretor Dinho Valadares explica que o elenco é composto por alunos do curso de teatro desenvolvido na sede da companhia. O fato se confirma no palco, pois o que aí se vê são pessoas desejosas de fazer teatro, mas sem os requisitos técnicos para tal. Dificuldades na movimentação, na emissão e na articulação das palavras, principalmente nas músicas que contam a história, ficam evidentes. A trilha sonora, de Mombaça, em tom alto, prejudica ainda mais o entendimento do que os atores cantam.
Galinhas, um musical de penas, provavelmente uma etapa do curso, não está em condições de ser oferecido ao público como um espetáculo profissional. Constrange o público e os atores ali colocados, cheios de inibições. O texto, de Patrícia Fontoura, mal costurado e com soluções inorgânicas, fala de um dono de galinheiro que está prestes a perder suas terras e pede ajuda aos galináceos para solucionar o problema.
Uma das propostas é participar de uma rinha de galo nas proximidades, projeto no mínimo polêmico. Outras galinhas propõem criar uma revista que aborde a vida dos artistas. Nenhuma solução dá certo. O proprietário namora a filha de um fazendeiro vizinho, com quem tem uma dívida. Do nada surge uma onça que ataca o fazendeiro, que é salvo pelo pinto mais novo do galinheiro, que pede, como recompensa, o perdão da dívida e a mão da filha do fazendeiro para o seu dono.
Embora o público tenha sido avisado que a montagem é “artesanal”, com cenários, figurinos e adereços realizados pelo próprio elenco, tamanha precariedade no acabamento e na proposta estética não se justifica. Poucos recursos em geral costumam estimular a imaginação e não o contrário. O cenário de Duka Nunes, feito de aplicações de elementos de plástico sobre um pano rústico, não cria nenhuma imagem nem propõe um espaço definido, já que a escada, único elemento de cena, remete à ideia de poleiro.
Os figurinos, de Lara Paciello, com calções e capuzes encimados por cristas de galo, com atores batendo asas, há muito foram abolidos dos nossos palcos. Esta é uma proposta estética que por muito tempo se considerou a “estética do teatro infantil”, o que não é verdade em absoluto. A criança exige teatro de boa qualidade e, como diz o diretor russo Constantin Stanilawsky: “O teatro para crianças é como o teatro para adultos, só que melhor”.