Gabriel Titan e Marcelo Klein: vilões que atuam No Fundo do Mar

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 13.02.2005

 

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No Fundo do Mar: Cartaz do Teatro Vannucci tem plateia lotada e interessada no assunto

Poluição é musical para crianças

As sessões lotadas de No Fundo do Mar, em cartaz no Teatro Vannucci, no Shopping da Gávea, não deixam a menor dúvida de que a companhia Só De Sapato Produções Artísticas está formando um público para os musicais infantis no Rio de Janeiro. A maior prova disso é que, antes de começar o espetáculo, várias crianças na plateia cantavam as músicas da montagem anterior da companhia, “Loja de Brinquedos”, que tocavam sem parar.

Em seu novo musical, No Fundo do Mar, Cláudio Figueira conta a história de um grupo de integrantes da fauna marinha, como o polvo, o cavalo-marinho, as lagostas e o tubarão, que têm sua tranquila rotina perturbada pela enorme quantidade de lixo jogada pelos seres humanos no mar. Para evitar maiores estragos, eles fazem um tipo de cooperativa de catadores de lixo, que só não funciona melhor porque alguns deles têm preguiça de trabalhar. E para tumultuar ainda mais a vida dos seres marinhos, entram em cena dois malvados mergulhadores, dispostos a caçar os elementos que possam dar a eles algum lucro em terra firme.

Ao escolher um tema tão atual e próximo das crianças, principalmente daquelas que já frequentam a escola, o autor consegue estabelecer uma comunicação imediata com seu jovem público.

Trio de lagostas é destaque no elenco

Logo no começo da peça, ele fica encantado com as imagens do fundo do mar, produzidas por atores que, vestidos de preto (e, portanto, invisíveis para o público), manipulam diferentes tipos de peixes que “nadam” por toda a extensão do palco. Passado esse primeiro momento de poesia, os diretores Carlos Arthur Thiré e Cláudio Figueira valorizam no espetáculo os momentos de tensão, como a primeira passagem do tubarão no fundo do palco e a captura de todos os personagens do fundo do mar pelos mergulhadores, e as cenas cômicas, protagonizadas pelos gaiatos mergulhadores e pelo tubarão, que, gago e medroso, é uma divertida surpresa para o público infantil.

No elenco de 12 atores, destaca-se o trio de cantoras-bailarinas formado por Elisa Firpo, Patricia Carillo e Patrícia Pedrosa (as lagostas), a dupla de mergulhadores formada por Gabriel Titan que também canta muito bem, e Marcelo Klein, além de Simone Centurione (pérola negra) e de Sabrina Korgut (estrela marinha), que, além se serem boas atrizes, têm belas vozes.

A ficha técnica de No Fundo do Mar está bem equilibrada. O cenário de Clivia Cohen, valorizado pela iluminação de Eduardo Salino, incita a imaginação das crianças. Marcelo Oliveira encontra boas soluções para os figurinos dos personagens marinhos, em especial para a tartaruga e para as pérolas. A parte musical também está bem resolvida. As músicas de Allison da Silva Ambrósio, ancoradas pela direção musical de Fernando Lopez e Marcelo Fabian e pela direção vocal de Monique Aragão, são bem interpretadas pelos atores, assim como as coreografias de Cláudio Figueira. Talvez o coreógrafo pudesse suprimir o número das três lagostas em seu dia de folga: apesar de gracioso, ele não tem nenhuma função na tra­ma, o que provoca uma queda no ritmo do espetáculo.

É muito bom perceber que, apesar de terem a casa sempre cheia, os diretores não se acomodam com o sucesso conquistado, procurando aprimorar seu trabalho a cada novo espetáculo.