Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 01.06.1996
Compacto sem vigor
Francisco, O Cavaleiro de Assis é a versão compactada de um dos mais emocionantes eventos teatrais realizados nos últimos tempos – Francisco de Assis -, com autoria e direção de Ciro Barcelos. O espetáculo, que ocupa o horário noturno do Teatro da praia, também frequentadíssimo por jovens e crianças, chega ao palco da vesperal, com alguns cortes e outros adendos, que, se não chegam a empobrecer a montagem, deixam escapar em algum momento o vigor contagiante da encenação original.
O texto de Ciro Barcelos, editado para a versão infantil, conta a vida de São Francisco desde a infância, onde mostra seu amor pela natureza e pelos animais, até o momento em que rompe com a riqueza da família e se dedica a uma vida religiosa, onde o voto de pobreza é um forte contraste com a exuberância da Igreja oficial. Na edição foram suprimidos os conflitos do cavalheiro de Assis com as regras da Igreja. Um importante elemento da vida de São Francisco, e provavelmente a causa de sua originalidade e culto, até pelos não oficialmente católicos. Pondo em cena os atores Lucas e Letícia Lopes nos papéis de Clara e Francisco quando crianças – depois substituídos pelo próprio Ciro e pela atriz Patrícia Levy, muito bem no papel – e ambientando sua trama numa floresta de fadas e faunos, Ciro Barcelos tem seu maior apelo junto à plateia infantil com narração de Cláudio Tovar e suas histórias bem contadas, sobre bichos e gentes.
Também com Cláudio Tovar, ficou a responsabilidade de criar a estética do espetáculo, que se revela impecável. Seus figurinos com algumas referências ao estilo hippie dos anos 60 mistura estrategicamente o brilho da purpurina e dos espelhos aplicados ao jeans surrado. Uma lembrança muito oportuna. Os cenários de Alziro Azevedo, feitos dos mais diversos materiais, que vão da palha do milho a latas recicladas, dão o toque final de originalidade ao espetáculo. Ampliando a cena e criando belíssimos momentos de passagens, a luz de Aurélio de Simoni é de rara sensibilidade.
As músicas de Flávio Lira e as coreografias de Ciro Barcelos se encaixam naturalmente na encenação, sem as fatais paradas para cantar e dançar. Um precioso detalhe que diferencia um musical de uma peça que tem trilha sonora.
Com o elenco reduzido, mas ainda mantendo a música ao vivo, um dos trunfos do espetáculo, Francisco, o Cavaleiro de Assis, poderia ser montado na versão original – Francisco de Assis -, pois este é um dos poucos espetáculos que, sem dúvida nenhuma, conquistou uma ampla faixa de público, relançando no teatro um fenômeno há muito tempo em desuso: a plateia lotada e a obrigatoriedade de uma segunda sessão na mesma noite. A sessão da tarde, é boa, mas a da noite é imperdível.
Cotação: 2 estrelas (Bom)