Crítica publicada no Site Pecinha é a Vovozinha
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo –  27.07.2019

Fotos: Gil Grossi

Para os adultos, uma viagem no tempo. Para crianças, uma aventura animada

As Formidáveis
fala de garotas dos anos 60/70 que querem vencer concurso de calouros em programa de auditório

Vindo de uma autora tão gabaritada e premiada como Cláudia Maria de Vasconcellos (As Roupas do Rei, direção Cris Lozano, 2001 – Assembleia dos Bichos, Bendita Trupe, 2005 – O Tesouro de Balacobaco, Bendita Trupe, 2007), só poderia ser um espetáculo muito bom. As Formidáveis é um musical completo, divertido, encantador, envolvente, memorialista. A dramaturga quis reverenciar o que chama de “miscelânea pop” vivida por ela na infância, diante da TV, nos anos 60 e 70. Seriados, desenhos animados, músicas, programas de auditório. Era um mundo ingênuo, pueril, ainda tecnicamente titubeante, mas que as novas gerações merecem conhecer – pensou ela, que não economizou em divertidas palavras e expressões daquela época: prafrentex, bater um plá, tô grilada, brotinho, biscoito fino, deixa de 9 horas, patota, bidu, borogodó e assim por diante. Uma delícia ouvir!

Deu certo. O resultado é bom para os adultos que também viveram essa época, mas não deixa nada a desejar ao público mirim de hoje, pois a experiente dramaturgia soube criar uma trama que se sustenta e nos entretém, independentemente da época escolhida para a ação. De cara, já saio dizendo que há tempos não vejo numa mesma peça uma galeria tão rica e diversificada de vilões. São vários, um desfile de pilantras divertidíssimos.

O elenco dá conta de tudo com muita versatilidade, jogo de cintura, boas vozes para canto, ritmo, humor e emoção. São eles: Dirceu de Carvalho (Dick Trapaceiro, Dolores Maria, Monsieur Vilon e Cascatinha), Larissa Cardoso (Norma, Kara-tê, Galinha do Iê-iê-Ie), Moacir Ferraz (Almeida, Agnaldo, Augusto, Dr Estraga-Prazeres, Cascatinha ou faxineiro), Nathália Alfieri (Elisete e Dondoca) e Tamirys O’hanna (Linda, Kid Nelson e Leo-lero).

Priscila Jorge e Neca Zarvos, assumindo a direção em dupla, demonstram segurança, competência e completa dedicação ao projeto desse espetáculo. Valorizam a música na medida certa (afinal, se trata de história de um trio de cantoras querendo chegar ao estrelato), garantem a fluência da fábula impregnando as interpretações de agilidade quase frenética e, mais ainda, complementam a força inegável do texto dando o peso adequado à direção de arte (figurinos, adereços e visagismo de Marina Reis e cenografia e iluminação de Marisa Bentivegna). Natalia Mallo, outro nome de bastante destaque no cenário paulistano de teatro, assina a contagiante trilha sonora original.

É muito difícil a dramaturgia rechear a trama com tantos personagens e a direção não perder a mão e o ritmo. As Formidáveis é uma peça que se segura bem o tempo todo, de tal forma que nosso interesse segue em um crescendo de entusiasmo e, ao final, ainda queremos mais.  Tudo é muito bem amarradinho, as tramas e subtramas se desenvolvem harmoniosamente. Uma aventura sem arestas a aparar – como isso é raro. Parabéns pela competência de todos os envolvidos. Já pode-se dizer que se trata de uma das melhores peças infantojuvenis desta safra paulistana de 2019.

Serviço

Local: Sesc Bom Retiro Endereço: Alameda Nothmann, 185, Bom Retiro, São Paulo
Telefone: 11 3332-3600
Capacidade: 291 lugares
Quando: Domingos, às 12h (meio-dia)
Duração: 75 minutos
Recomendação da produção: a partir de 5 anos
Ingressos: Grátis para crianças até 12 anos.  R$ 17,00 (inteira), R$ 8,50 (meia) e R$ 5,00 (credencial do Sesc)
Temporada: De 30 de junho a 11 de agosto de 2019