Matéria publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 19.09.1997
Folia Real no Museu da República
Desde que descobriu a Folia de Reis durante uma temporada em Paraty, há cerca de dois anos o ator Raul Labanca decidiu transformar esta festa popular, que transita entre o sagrado e o profano e mobiliza uma multidão de devotos anualmente, num infantil. Amanhã, Folia de Reis estreia nos jardins do Museu da República reunindo o time que Labanca pediu a Deus – e recebeu: o escritor Bráulio Pedroso (que escreveu o texto e as belas canções a partir da pesquisa e argumento do próprio Labanca); o elenco e os diretores Roberto Dória e Célia Bispo da Companhia Nosconosco (que pela primeira vez dirigem um projeto que não é do premiado grupo); o figurinista Ney Madeira; o iluminador Aurélio di Simoni; e a produtora Eveli Ficher.
– Tinha que ser esse time para conseguir fazer teatro a partir de uma história simples como a da folia – diz Labanca que também está em cena. – Contamos a trajetória dessa festa que chegou ao Brasil com a corte e ainda se mantém viva ao lado das nossas casas sem que a gente conheça. Há folias tradicionalíssimas no Morro Dona Marta e na Mangueira, por exemplo.
No final do espetáculo, a Folia do Dona Marta entra em cena para fazer o ritual do cruzamento de bandeiras com a folia teatral de Labanca. O objetivo principal do ator – que pode ser visto na TV na reprise da novela Fera Ferida, como o Animal – era mesmo o de conceber uma grande e colorida alegoria em torno do tema. E foi a partir daí que Bráulio Tavares, há mais de 20 anos debruçado sobre a literatura popular brasileira, trabalhou.
– O grande desafio foi fazer algo explicativo sem ser chato – conta Bráulio.