Foi ele que começou, foi ela que começou na Fundição: ágil e divertido

Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 29.10.2005

 

 

 

 

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Cia. Livre de Teatro mostra que o fundamental no palco é criatividade

A Companhia Livre de Teatro ocupa o Espaço Cinco da Fundição Progresso, o mais novo teatro do Rio, batizado de Teatro Livre, onde encena o espetáculo infantil Foi Ele que Começou, foi Ela que Começou. A adaptação de Marcelo Saback para o livro homônimo de Toni Brandão, recebeu o  Prêmio Coca-Cola de Teatro Infanto-Juvenil de melhor texto, quando de sua primeira montagem, que trazia Luiza Thiré, agora diretora, como protagonista.

A Cia. Livre abre este novo espaço para o teatro no Rio contemplando o horário dedicado ao público infantil. Neste momento, em que tanto se discute o que seja o bom teatro para crianças, temos neste espetáculo um exemplo de que qualidade e recursos financeiros nem sempre andam necessariamente juntos. A produção, quase franciscana, consegue realizar, com criatividade, um espetáculo ágil, divertido, com uma história bem-contada.

O texto fala de uma noite em que os pais de Gute e Pisco – casal de gêmeos de 10 anos – resolvem sair e deixam a casa livre para as duas crianças travarem uma verdadeira guerra para ver quem vai assistir à televisão. No meio dessa batalha há um acidente inesperado – a TV cai no chão e se quebra. De quem será a culpa? Como contar para os pais? A partir deste mote, o espetáculo se constrói. Em sua estreia como diretora, Luisa Thiré optou por uma linguagem que remete ao desenho animado, pela sua movimentação, rapidez e agilidade.

Três painéis em cena identificam o quarto de Gute, o quarto de Pisco e a sala da casa. Poucos adereços, figurinos simples, mas absolutamente funcionais e adequados ao texto e à linguagem proposta, com direção de arte de Pedro Sayad. Há momentos muito divertidos, provocados pelo uso do rewind,  quando alguma parte da história não ficou bem contada. Embora lance mão destas soluções cênicas, nem sempre consideradas a ideais e já bastante utilizadas – como o recontar acelerado, a cena congelada, a cena em slow motion-, a forma como a direção às utiliza é adequada à linguagem do espetáculo e ao  tom de brincadeira que se instala no palco.

Cenários, adereços e figurinos são brinquedos, construídos de forma simples – ingênuos, verdadeiros e criativos, absolutamente integrados. Os atores Tatiane Peres e Victor Maia fazem com vigor os personagens e também narram a história. Tatiane é uma atriz com um desempenho ágil e forte, mas bem-humorado, necessário para um espetáculo com um longo texto e apenas dois atores. A atriz contribui para que se mantenha a energia da peça, utilizando-se da movimentação desnecessária. Prende a atenção do público num jogo equilibrado com o ator Victor Maia.

Com referência da animação, o desenho cênico é preciso, quase coreografado, orgânico e expressivo. A iluminação de Genilson Barbosa consegue se desincumbir bem de sua tarefa e a trilha sonora de Thiago D’Ângelo segue o mesmo caminho: simplicidade e criatividade, numa proposta cênica que conduz todas  as linguagens utilizadas para um resultado harmônico e coeso.
Trata-se, vê-se logo, de uma direção segura que tem uma proposta clara. Proposta que é bem realizada e provoca empatia. É um bom começo para o Teatro Livre.